Pequenas histórias, grandes interpretações.

Um dos maiores nomes da televisão brasileira, Glória Pires também viveu personagens marcantes em minisséries da Globo. Ela foi Ana Terra, em O tempo e o vento (1985), e Maria Moura (1994), em Memorial de Maria Moura, duas personagens fortes e corajosas, importantes em sua trajetória profissional.

Em O tempo e o vento, escrita por Doc Comparato, com a colaboração de Regina Braga, baseada na primeira parte da trilogia de Érico Veríssimo (O continente), Glória Pires desejava tanto interpretar Ana Terra, que pediu ao diretor Daniel Filho para desempenhar o papel. Em Memorial de Maria Moura, chegou a fraturar o cóccix durante as gravações, mas não desanimou. A minissérie, inspirada na obra de Rachel de Queiroz, teve adaptação de Jorge Furtado e Carlos Gerbase e direção de Roberto Farias, Mauro Mendonça, Denise Saraceni e Marcelo Barreto.


Lançamento em DVD:


Memorial de Maria Moura (2004)
O tempo e o vento (2005)

Comentários de: Rubens Ewald Filho

Memorial de Maria Moura

Idioma: Português
Legendas: não tem
Gênero: Série de TV
Duração: 545 min. Cor
Distribuidora: Globo Vídeo/ Som Livre

Sinopse:
Por causa de uma disputa pelas terras de sua fazenda, por conta dos primos, Maria Moura é obrigada a fugir e se refugiar na montanha, onde se torna dona de um refúgio para perseguidos e foras da lei.

Comentários:
Resistiu bem ao tempo esta minissérie da Globo, já com certa idade e muito pouco lembrada (apesar de ter sido premiada na época). É um ponto alto na carreira de Gloria Pires, que nunca cai na caricatura, fazendo discreta e interiorizada um papel difícil, de mulher que alterna entre o macho e feminino, personagem criado por Rachel de Queiroz.
Na verdade, tem um excelente elenco, sem falhas (dá uma rara chance na tevê para o ator de cinema Chico Diaz, sempre humano e eficiente), além da estréia da filha de Gloria, Cleo Pires (fazendo Maria criança). Anos depois ela estrelou "Benjamin" e virou estrela da novela "América".
Nesta edição, foram reduzidas e até eliminadas as tramas paralelas, a não ser na primeira parte (são três DVDs, mas é difícil identificá-los) quando se mantém duas histórias importantes, o romance entre o padre (Cadu) e a beata (Bia), que motiva a perseguição e outro entre uma prima (Cristiana) que foge com um malabarista do circo (Jackson).
Mais tarde, se torna igualmente forte o triângulo amoroso entre Gloria, seu primo Chico e o rapaz bonitão, rico e mulherengo (Marcos Palmeira). O texto foi escrito pelos cineastas Jorge Furtado e Carlos Gerbase (ajudados por Renato Campão e Glênio Povoas).

O tempo e o vento

Idioma: Português (mono)
Legendas: não tem
Gênero: Série de TV
Duração: 450 min. Cor
Distribuidora: Warner/ Globo Video

Sinopse:
A história da família gaúcha Terra Cambará, desde sua origem em 1777, durante várias gerações, incluindo o Capitão Rodrigo Cambará, Ana Terra e Bibiana, na luta pela terra e a liberdade, culminando com o cerco do sobrado da família pelos inimigos em 1825.

Comentários:
A trilha musical de Antonio Carlos Jobim é das coisas mais memoráveis desta minissérie da Globo. Assim como a escolha de Tarcisio para ser o Capitão Rodrigo, o mais famoso personagem de Érico Veríssimo e Glorinha como Ana Terra (ambos são ideais).
Foram Doc Comparato e Regina Braga quem fizeram a adaptação da obra de "O Continente", de 1949, já que se trata de uma trilogia que usa como epígrafe, frase do Eclesiastes: "uma geração vai e outra geração vem, a terra para sempre permanece. E nasce o sol e põe-se o sol. E volta ao seu lugar donde nasceu. O tempo nunca fica parado. Parece o vento. Vai pro sul e lá no frio, fica ainda mais frio. Depois gira, gira, gira no rumo do norte. E tudo começa de novo."
Lançado no fim do ano em que se relembrava o centenário do nascimento de Veríssimo, naturalmente traz a marca do tempo, já que a tecnologia evoluiu (a Globo não rodava em película mas em vídeo tape, que hoje ficou granulado e com pouca definição).
Começa com a história da nativa Ana Terra que se apaixona por um índio vindo da missão dos Jesuítas, depois em 1828, o Capitão Rodrigo chega a Santa Fé e se envolve com a jovem Bibiana, e depois o cerco do Sobrado em 1895 (mas em ordem cronológica, no livro, os trechos do Sobrado são entremeados com os outros). Curiosamente todos estes também foram adaptados para o cinema (e essas versões existem em DVD).

Onde comprar as minisséries em DVD:
Existem sites como mercado livre e outros do gênero que vendem os dvd´s, alguns são usados e podemos encontrar por um preço abaixo do custo. Para comprar os produtos novos e originais também existem sites muito bom que fazem a venda, é necessário estar atento a informações importantes como o valor do frete, disponibilidade de estoque e tempo de entrega. Selecionamos dois links confiáveis, vejam:

Coleção Memorial de Maria Moura (3 DVDs) - Lojas americanas

Coleção O Tempo e O Vento (Duplo) - Lojas americanas


Seleção de cenas:

Abertura de O tempo e o vento.



Gloria Pires em rápida cena no flash back de memórias de Bibiana (Louise Cardoso / Lilian Lemmertz) nos momentos finais de O tempo e o vento.



Cenas de Gloria Pires em Memorial de Maria Moura.





Chamada da minissérie Memorial de Maria Moura (A estréia).



Abertura de Memorial de Maria Moura.



Um lindo vídeo com música clássica e diversas cenas de Maria Moura (Cleo Pires e Gloria Pires).



Depoimentos de Gloria Pires, a atriz fala sobre as minisséries O tempo e o vento e Memorial de Maria moura. A seguir:

...
Depois, você fez uma personagem importante na minissérie O tempo e o vento. Como foi esse trabalho de composição?

Essa personagem foi bem batalhada. Era a Ana Terra. Eu estava ainda atuando em Partido alto, quando as gravações dessa minissérie começaram, em Porto Alegre. Eu me encontrei com a Carla Camurati, que, na época, estava casada com o Paulo José. Ele era o principal diretor da minissérie, e a Carla comentou que o Paulo achava que eu me encaixava bem no papel de Ana Terra. Imediatamente, fui falar com o Daniel Filho: “Olha, estou sabendo que o Paulo quer que eu faça... Eu gostaria de fazer a personagem”. Assim, eles negociaram com a Glória Perez. No princípio, foi bem difícil conciliar, mas acabou dando tudo certo. Era uma rotina muito puxada, porque a Cléo já havia nascido. Eu gravava a novela e, nos intervalos, viajava para o Sul, onde gravava O tempo e o vento, uma trama maravilhosa, uma superprodução de grande importância histórica. O tema central era a formação do estado do Rio Grande do Sul, mostrada através das diversas gerações da família Terra Cambará. A trama girava em torno de quatro histórias. Uma delas era a da minha personagem, Ana Terra, que fazia um contraponto à luta pela conquista da fronteira, mostrando situações afetivas, como a maternidade, a fidelidade. Fiquei muito honrada em participar desse trabalho. O resultado final foi espetacular. A TV Globo, quando assume uma produção, tem um diferencial, realmente. A trilha sonora é do Tom Jobim. E foi construída uma cidade cenográfica enorme. Enfim, um trabalho gratificante, inesquecível.

Você destaca alguma cena dessa personagem ou da minissérie?
Todas as cenas da Ana Terra são emocionantes. Tem a cena da invasão dos castelhanos, que foi bem difícil de fazer. A cena do parto, quando ela tem o filho sozinha, é muito bonita. Mas o lance mais legal foi ter aprendido a fiar, tirar a lã e fazer o fio na roca, que é bastante difícil, e eu consegui aprender. Louise Cardoso também, nós duas conseguimos! Na direção, tinha uma turma da pesada: Paulo José, Walter Campos, Denise Saraceni e Luiz Fernando Carvalho, que era assistente de direção da Denise. Se não me engano, foi a partir daí que ele veio para a Globo. Então, foi um trabalho que deu ótimos frutos.

Você destaca alguma coisa no trabalho desses diretores?
Quem me dirigia mais era a Denise. Acho que como eram algumas frentes, de várias épocas, cada diretor ficou com um núcleo. Denise sempre foi muito delicada, muito firme no que ela quer, mas com muita delicadeza, uma pessoa fácil de trabalhar. Nesse trabalho, nós nos dávamos muito bem.

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Memorial de Maria Moura
. Como foi esse trabalho?

Tenho lembranças muito boas de um trabalho árduo, talvez o mais difícil que tenha feito na TV Globo. Gravávamos em fazendas, e não podia ter poste de luz, barulho de estrada. Era complicadíssimo gravar com muitos animais em cena, pois se tem que refazer várias vezes. O figurino de época é quente, pesadíssimo. Levamos quase cinco meses gravando. Houve uma mudança de locação das cenas da fortaleza de Maria Moura, que passaram a ser feitas em Friburgo ou Teresópolis, um lugar deslumbrante, realmente, mas de acesso complicado. Mesmo assim, fazíamos o trajeto diariamente. Era uma estrada de terra, cheia de curvas perigosas, tinham os nossos ônibus, levávamos gerador, aquela parafernália toda para ser montada lá em cima do morro, foi uma coisa complicadíssima. Tive que aprender a manejar armas, a cavalgar, e um monte de coisas que não faziam parte da minha vida, mas foi muito bom. Acho que nunca perdemos nada aprendendo, estou sempre disposta a adquirir novos conhecimentos. E isso tudo me valeu muito porque, depois dessa experiência em Memorial de Maria Moura, eu comprei uma fazenda, aí fui vivenciar tudo que havia aprendido na minissérie.

E o perfil psicológico da Maria Moura, como é que você trabalhou isso?
Maria Moura perde o pai na infância e, aos 17 anos, encontra a mãe morta. O provável assassino era o padrasto, que a seduz. Então, desde muito jovem ela era obstinada. E fez tudo para se livrar desse homem. Ela não pensou duas vezes: seduziu o amigo de infância, o escravo, dando-lhe a ilusão de que, se o padrasto fosse morto, eles poderiam viver uma história de amor. Depois, não titubeia ao dedurá-lo para a polícia. Então, aquela heroína seca, no final, se oferece em sacrifício para que a fortaleza fique intacta. E a Maria Moura vai ao encontro do exército, junto com o braço direito dela, que era o Chico Diaz, o irmão dela, vamos dizer assim, e segue para enfrentar a polícia, o exército, sabendo que estava se entregando para que aquela estrutura permanecesse. Então, ela era uma heroína cheia de defeitos, mas humana. Não é a heroína pura, a que promete casamento para o amigo de infância e vai cumprir; não, ela o bota na linha de fogo para sair dali e buscar o Eldorado, o lugar de que o pai falava, e do qual ela tinha uma imagem esculpida, aquele lugar do sonho, da salvação dela. Esta era a Maria Moura.

Quais são as diferenças, para o ator, entre atuar em novela e minissérie?
A última minissérie que fiz foi O tempo e o vento. Para mim, não houve diferença nenhuma, porque gravamos durante muito tempo. Mas as minisséries dão muito prestígio e, depois, existe sempre a possibilidade de gravar em DVD. Não sei por que não fazem isso também com as novelas. Podiam fazer um resumo e colocar em DVD ...

Fontes de pesquisa:

Arquivo pessoal
Revista contigo especial
Site americanas
Site memória Globo
Site teledramaturgia
Site uol cinema
Youtube (vídeos)

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