Sucesso de 1997, ‘Pequeno dicionário amoroso’ começa a ganhar sua continuação

Longa de Sandra Werneck vai contar com os mesmos protagonistas, em novíssimos verbetes

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Em outubro, a diretora inicia a segunda rodada, que trará as gravações com Gloria Pires e Tony Ramos, também integrantes do filme original.

Gloria Pires quando gravou participação no filme em 1997


RIO — Dezessete anos depois de se conhecer e de viver todas as fases do amor — da paixão à separação —, o divertido casal de “Pequeno dicionário amoroso” ensaia uma volta. Anteontem, à beira de uma Lagoa Rodrigo de Freitas banhada pelo sol do inverno, Andréa Beltrão e Daniel Dantas sentaram à mesa de um “restaurante” para encarnar mais uma vez a arquiteta Luiza e o biólogo Gabriel, retomando o sucesso levado às telas por Sandra Werneck em 1997 e transformado em peça de teatro três anos mais tarde.
Há uma semana, a dupla de atores vem gravando “Pequeno dicionário amoroso 2”, dirigido pela mesma Sandra, agora em parceria com Mauro Farias, e com previsão de chegar aos cinemas em meados de 2015. Para Gabriel e Luiza, 15 anos se passaram desde a separação, que marca o final do primeiro filme. Desde então, não se viram mais. Luiza casou, constituiu família. Gabriel colecionou relacionamentos. A cena rodada na Lagoa é das últimas do novo roteiro. O reencontro do casal acontece bem antes, no velório de um amigo comum. Se a primeira história começa com um encontro num cemitério, na segunda, a situação se repete.
— Quis recomeçar no mesmo lugar — conta Sandra Werneck.
A diretora só pensou em retomar “Pequeno dicionário amoroso” há coisa de ano e meio. Antes disso, a ideia de dar prosseguimento à história nunca tinha lhe passado pela cabeça.
— Quando fiz o primeiro, eu estava me separando. Foi meio autobiográfico. Fiz o filme para resolver isso, para expurgar. Acho que ele tinha uma melancolia — diz a diretora. — Agora estou feliz, casada há dois anos. Vivo o momento oposto. Quando um casal se separa e cada um vai para um lado, é natural pensar no que aconteceu com eles. Foi esse pensamento que me fez voltar a Gabriel e Luiza. Na verdade, acho que eu pensava em mim mesma.

PAISAGENS EXUBERANTES

Assim como no anterior, “Pequeno dicionário amoroso 2” ampara a trama em verbetes e explora paisagens exuberantes do Rio. Se o primeiro desfilava o enredo por galerias do Museu Nacional de Belas Artes, pelo salão do Centro Cultural Banco do Brasil e pela vista noturna do mar de Copacabana, a continuação também vai tirar proveito de paisagens como a Lagoa, o Aterro do Flamengo e as praias. Os verbetes terão, entretanto, um tratamento mais livre.
— A proposta agora é tratá-los de forma mais solta. No primeiro, existia uma cronologia, seguia-se o desenrolar do relacionamento afetivo. Agora, eles vão ser aplicados conforme as situações — explica Sandra, para em seguida adiantar alguns verbetes: — Loucura, alucinação, purgar.


No desenrolar da nova história, escrita por Paulo Halm (roteirista da versão original, ao lado de José Roberto Torero) e Rita Toledo, o amor do casal maduro, agora por volta dos 50 anos, ganha também outros personagens. Os filhos de ambos. Pedro (Miguel Arraes), de 13 anos, filho de Luiza, e Alice (atriz ainda a ser definida), de 20, filha de Gabriel. A partir deles, entra em cena o amor das novas gerações, com novos códigos de conduta e um novo vocabulário. “Pequeno dicionário amoroso”, afinal, é anterior à explosão da internet e das redes sociais. O amor de Gabriel e Luiza é do tempo em que celular era um tijolão que mal cabia na bolsa, palavras como estreia ainda tinham acento agudo e fumar um cigarro não causava constrangimento algum.
Em função da ampliação do universo — e do discurso— amoroso, com as histórias de Alice e Pedro e com modelos de relações modernas, Sandra buscou a parceria de Mauro Farias (diretor de “O diário de Tati” e de programas de TV como “Sob nova direção” e “Casseta & Planeta, Urgente!”) para a direção. Os dois trabalham juntos pela primeira vez.
— Eu não queria fazer o filme sozinha, e o Mauro me oferece um olhar masculino — ela diz.
Farias parece à vontade. Não fez parte do primeiro filme, não foi marcado pelo trabalho, mas é da turma. Conhece Sandra há muito tempo, é cunhado de Andréa Beltrão e amigo de Dantas.
— É claro que esse é um projeto da Sandra, ideia dela, e esse espaço artístico precisa ser respeitado. Mas não temos tarefas divididas, e a parceria tem fluído muito bem — afirma ele.
Os dilemas dos mais novos são apresentados, mas as questões do par mais velho também se impõem: é possível amar na maturidade com a mesma intensidade de quando se é jovem? A nova geração, na opinião dos dois diretores, tem menos constrangimentos. Um beijo não significa compromisso. E o objeto amoroso pode variar de gênero. Menino ou menina.
— Esse é um novo filme. E tem um novo léxico — diz Farias.
Nessas duas décadas — o projeto começou em 1994 —, não foi apenas Sandra que não tinha pensado em retomar a história:
— Fiquei um tempo com medo de ler o roteiro. Sei lá, medo de a coisa não acontecer — entrega Dantas.
Daniel Dantas conta que a experiência de integrar “Pequeno dicionário amoroso” foi marcante. E não só por ter sido Gabriel seu primeiro protagonista no cinema.
— O filme começou como um curta. Eu e a Andréa fomos dois do que botaram muita pilha, acreditando que a história tinha fôlego para crescer — conta o ator, que ficou amissíssimo da parceira de cena e é padrinho do filho caçula da atriz.
Para Andréa, o filme, que levou cerca de 500 mil espectadores aos cinemas, cruza com sua história pessoal. Ela ficou grávida de seu primeiro filho, Francisco, no meio do caminho. Então, as filmagens foram retomadas depois. Mais tarde, pensou-se em gravar um segundo final. E ela estava novamente grávida.
— Quando a Sandra me chamou agora, me disse logo: vê se não engravida! — conta Andréa, aos risos. — Agora acho que não corro esse risco.

FILMAGEM EM ETAPAS

Ela não engravidou, mas, por causa de seus compromissos, fez Sandra optar por filmar em duas etapas. Uma agora, para aproveitar as férias de duas semanas que a atriz tem da TV. Em outubro, a diretora inicia a segunda rodada, que trará as gravações com Gloria Pires e Tony Ramos, também integrantes do filme original. O elenco vai ganhar ainda a presença de Du Moscovis, Camilla Amado e Marcelo Airoldi.
Andréa reviu o filme original outro dia. A sensação, diz, é curiosa:
— É estranho. Não me percebia tão jovem. Eu vi a passagem do tempo no meu rosto...
Já Daniel Dantas não quis revisitar a história. Buscou nele mesmo o tom que achava que Gabriel teria mais velho. Mas também não nega uma certa estranheza.
— Ela reside no fato de você não ser mais o que já foi.
“Pequeno dicionário amoroso” terminava com o fim da relação de Gabriel e Luiza. Mesmo assim, era um filme esperançoso, de aposta no amor. Para o ator, a história é otimista:
— Não é um filme sobre a impossibilidade do amor, mas sobre as suas muitas possibilidades.
Sandra promete que a continuação será assim.

SUCESSO AFETIVO DE UMA GERAÇÃO

“Pequeno dicionário amoroso” estreou em 1997 nas telas brasileiras, concluindo um projeto iniciado pela diretora Sandra Werneck em 1994. Com roteiro de Paulo Halm e José Roberto Torero, o filme narrava a história de dois jovens, que se conhecem por acaso e acabam por se apaixonar. A cronologia do relacionamento, do início ao seu fim — é amparada por verbetes como atração, cio, caça, dúvida, marasmo. Uma espécie de roteiro amoroso de A a Z.
O filme fez sucesso e caiu no gosto do público,tanto pela abordagem espirituosa das relações amorosas, como pela verdade dos personagens, defendidas pelos bons desempenhos de Andréa Beltrão e Daniel Dantas. Sem falar na sucessão de belas imagens do Rio de Janeiro que embalavam a história do casal. De quebra, ainda tinha Ed Motta na trilha sonora.
A trajetória afetiva do casal era toda pontuada por intervenções um tanto bem-humoradas feitas pelos melhores amigos da dupla, vividos por Tony Ramos e Mônica Torres. Ambos muito críticos em relação ao amor e ao ideário romântico. A produção contava ainda com uma participação curta e luxuosa de José Wilker como o advogado de Dantas, que, no início da trama, se separava da primeira mulher, vivida por Gloria Pires.

Fonte:
O Globo - Filmes

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