Gloria Pires capa da revista Caras - Novembro 2023

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Entrevista
Site Caras - Por Fernanda Chaves - Publicado em 16/11/2023


Gloria Pires: ‘Existem vozes que só querem te abalar’ 

Ao fazer do tempo um aliado, Gloria Pires dá lição de maturidade e diz que é preciso saber quem ouvir para não se desestabilizar 

Na pele da Irene, da novela global das 9, Terra e Paixão, Gloria Pires (60) surge de lace, com fios castanhos e compridos. Feliz e bem resolvida, fora dos estúdios a atriz gosta de aparecer o mais natural possível: com seu cabelo curto e grisalho. “Tudo o que eu vivi de bom e, principalmente, de desafiador, me fez chegar até aqui, me fez ser essa pessoa que eu sou. Gosto disso”, afirma a artista, que construiu uma trajetória profissional respeitável. 

 Na vida pessoal, o êxito foi o mesmo: um casamento sólido com Orlando Morais (61) e a realização do sonho de ser mãe com Cleo (41), Anttónia (31), Ana (23) e Bento (18). Aos 60, a estrela tem o tempo como seu aliado e diz que, hoje, sente muito mais prazer em seu ofício. “Quero concretizar histórias que me realizem, que eu ache importante”, afirma. 

 – Terra e Paixão marca o fim do ciclo de seus mais de 50 anos de TV Globo. É um adeus? 

– Não vejo como um adeus, e sim como um até breve. Tenho uma relação sólida e bem-sucedida com a empresa, uma história feliz! Mudou o modelo de contrato e a maior diferença é que poderei transitar por outros lugares. A TV Globo será um desses lugares. 

 – Não pensa em se aposentar, né? Quais são seus planos? 

– A beleza desta profissão é que ela pode durar enquanto a chama estiver acesa. Levei muito tempo para encontrar o prazer e me divertir no meu trabalho. Existia uma tensão, uma cobrança minha comigo mesma. Tenho feito cada vez mais projetos que são do meu interesse. E tenho o desejo de estar na direção também. 

 – Você é uma das atrizes mais respeitadas do Brasil. Isso mexe com você? Em algum momento já se deslumbrou?

 – Fico lisonjeada pelo carinho. Cresci com um referencial artístico dentro da minha casa — meu pai, o ator Antônio Carlos — que me fez entender que atuar é um ofício, que as grandes oportunidades surgem “do nada” e que a fama é efêmera, como a própria vida. Por isso, estive engajada no cumprimento e manutenção dos nossos direitos desde o reconhecimento da nossa profissão de artista, em 1978, e sigo, junto à nossa associação de gestão coletiva Interartis, defendendo o reconhecimento do nosso direito à remuneração no ambiente digital e buscando melhores condições negociais e de trabalho. Não escolhi essa profissão racionalmente e nunca fui boa em fazer lobby. Eu segui um caminho profissional de forma orgânica e genuína, perdendo muitas coisas, mas ganhando outras. Sei que ninguém faz audiovisual sozinho, prezo meus colegas (os que estão em frente às câmeras e os que estão atrás, fazendo tudo acontecer) e tenho respeito pelo público, razão do nosso trabalho. 

 – No início da carreira, você foi cobrada por não ter feito teatro e chegou a dizer que custou a ficar confortável atuando. Sentia como se tivesse que provar o tempo todo que estava ali por mérito? 

– Havia uma cobrança externa, mas a maior cobrança sempre foi minha. Desde cedo, eu fiz trabalhos que me validaram como artista e trouxeram o reconhecimento do público e da crítica. No entanto, mesmo assim, eu tinha essa questão. Após o dia inteiro de gravação, eu chegava em casa e não conseguia me desligar, repensando os caminhos daquela diária intensa de cenas. Era torturante. A terapia me ajudou nesse aspecto. Hoje, sinto prazer e não somente o peso da responsabilidade. Eu não queria provar algo para alguém. Sempre foi para mim mesma. 

 – Mulheres são cobradas pela aparência e vocês, que trabalham com a imagem, devem ser ainda mais. Como lida com isso e com o passar do tempo? 

– É preciso saber quem você escuta, porque existem vozes que só querem te abalar, te desestabilizar. Fico atenta para não dar atenção para essas vozes, inclusive as internas! Gosto de me cuidar, é algo que faço por mim e para mim. Cedo, entendi que queria o tempo ao meu lado e isso me trouxe sabedoria. Tudo o que vivi de bom, e principalmente de desafiador, me fez chegar até aqui, me fez ser essa pessoa que sou.

 – Gosta do que vê no espelho? 

– Sim! Eu vejo uma história muito bem vivida. E me sinto, de verdade, muito bem. 

 – Você assumiu os fios grisalhos. Sente que tem inspirado outras mulheres? 

– Meus primeiros fios brancos surgiram cedo, lá pelos meus 20 anos, portanto sempre pintei os cabelos. Eu me amo com os fios brancos. Me sinto empoderada, estilosa e chique. Fico feliz em saber que, de alguma forma, tenho inspirado mulheres a se sentirem bem, do jeito que elas são, sem terem que fazer algo para caber no desejo do outro, da sociedade. 

 – Já falou que seus 60 anos estão melhores do que os 30... 

– Eu estou viva, em paz, realizada profissionalmente e pessoalmente. Durante a vida, criei algumas angústias, planejando concretizar planos e mais planos... acho que é assim com a maioria das pessoas, nunca estamos totalmente em paz. Aos 60, eu estou com ótima saúde para realizar, para viver. 

 – Já teve crise de idade? 

– Eu não tinha uma bula que dissesse sobre os efeitos colaterais de certas escolhas na vida, então, passei por fases desafiadoras, foi quando precisei de mais reflexão, de avaliação do meu caminho. Mas estou feliz com a minha história de vida pessoal e profissional. Voltar o tempo é impossível, graças a Deus (risos)! Penso sempre em andar para a frente. 

Fonte:
Revista Caras
Entrevista Fernanda Chaves
Fotos: Sergio Baia 
Styling: Marcia Maia

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