Gloria Pires na Revista Profashional
Uma atriz rara!
Gloria Pires completou 50 anos muito bem vividos e com papéis memoráveis, seja na televisão ou no cinema. “Eu me sinto muito feliz”, revela com seu encantador sorriso e a certeza de que vem muito mais por aí.
Sim, Gloria Pires é um ícone da televisão brasileira. Ela estreou com apenas 5 anos, em 1968, na telenovela “A Pequena Órfã”, da antiga TV Excelsior. E não parou mais. Foi emendando um trabalho no outro e o Brasil viu a pequena notável tornar-se uma atriz de talento incontestável.
Pessoalmente, ela é simpática e sempre está com o inconfundível sorriso que se tornou sua marca registrada. Mas a meiguice é apenas um dos aspectos dessa atriz que já fez história no cinema também. No ano em que completou 50 anos (ela nasceu em 23 de agosto de 1963), ela estreou mais um filme marcante “Flores Raras”, onde é retratada a história de amor entre Elisabeth Bishop (poeta americana vencedora do Prêmio Pulitzer em 1956) e Lota de Macedo Soares (“arquiteta” carioca que idealizou e supervisionou a construção do Parque do Flamengo).
O longa, com direção de Bruno Barreto, é falado em inglês e teve a participação da atriz australiana Miranda Otto no papel da poeta. Gloria interpretou Lota. Cenas de amor entre as duas são mostradas com muita delicadeza, ressaltando o trabalho da direção e interpretação.
Gloria conta que esperou 17 anos para gravar o filme, desde a compra dos direitos da obra até o início das filmagens. E que não desistiria de interpretar Lota por motivo algum. “Esse tempo foi muito bom para aprimorar minha atuação e até mesmo meu inglês”, completou.
Entre os trabalhos que realizou, Gloria destaca “Vale Tudo” (1988) e “Mulheres de Areia” (1993) e a minissérie “Memorial de Maria Moura” (1994). No cinema, “O Quatrilho” (1995), “É Proibido Fumar” (2009) e “Flores Raras” (2013).
Seu trabalho mais recente na TV foi em “Guerra dos Sexos” (Globo), no papel da executiva Roberta Leone, história escrita por Sílvio de Abreu, um remake da telenovela brasileira produzida em 1983. Ela brilhou tanto que logo pulou para o lugar de uma das protagonistas.
Quanto ao futuro, ela pretende tirar férias, mas sabe que não dá para ter a certeza de quanto tempo conseguirá descansar. Afinal, ela não é atriz de recusar papéis interessantes. E com o talento e carisma que tem, os convites devem chegar a todo o momento.
A seguir, confira a entrevista de Gloria Pires para a Profashional.
Profashional: Você tem alguma semelhança com a Lota (personagem do filme de “Flores Raras”)?
Gloria Pires: Com todos os personagens que caíram na minha mão até hoje, a primeira coisa que me atraiu neles não foi necessariamente a semelhança, mas o que eu poderia contar daquela história e o que eu poderia aprender com o tipo de vivência. E claro o básico, como roteiro, produção, direção... A gente vai se cercando de coisas legais. Não tenho semelhanças, mas o ímpeto, embora ela seja muito mais aberta do que eu, sou mais comedida, tenho crença pessoal de tempo para as coisas amadurecerem e acontecerem. O que não é o caso da Lota. Ela pensava em algo e ia atrás de realizar aquilo.
P.: Qual foi o maior desafio no filme, fazer um personagem homossexual ou falar em inglês?
G. P.: A questão de o filme ser falado todo em inglês foi bastante complicado. Mas a gente teve o apoio da Barbara que é uma atriz americana que ajudou a soltar a língua. Mas eu me preocupava mais com as cenas de emoção. É lógico que, na hora da emoção, a gente vai para o cantinho, pro nosso conforto. Mas foi tudo bem! Em relação ao personagem, por ser homossexual, não houve problema algum. Na verdade, foi a solução. Busco desafios! Já tenho quarenta e poucos anos trabalhando como atriz, na maioria deste tempo, fazendo telenovelas. Embora eu tenha sempre tentado fugir das regras, de certa forma, a gente fica enquadrado. No bom e no mal sentido. Quando recebi o convite, dei pulos de alegria. Se o Bruno (Barreto) tivesse decidido me trocar, não seria fácil para ele... (risos). Porque foram dezessete anos para que esse filme acontecesse. Para mim, foi um presente!
P.: Quais foram os elementos principais para você compor essa mulher tão diferente de você? Você pesquisou algum documento para poder se basear na personagem?
G. P.: Não há muitas fotos da Lota porque ela não gostava de tirar. Algumas pessoas que a conheceram relataram um pouco sobre essa vivência em alguns livros. Tive a oportunidade de ler e conhecê-la melhor. Eles se referiam muito a ela, da forma como falava e agia. Imagine que, em plenos anos 40 e 50, ela tinha essa condição de homossexual, que falava com as pessoas de maneira mais livre, soltava muitos palavrões e ainda tinha intimidade com os peões... Era uma camaradagem com abordagem bem masculina. E isso tudo está nos livros que, na verdade, eram dedicados a Bishop, mas a Lota foi citada.
P.: Você costuma emendar um trabalho no outro. Mas já cogitou a hipótese de ficar um período longe das câmeras para descansar um pouco?
G. P.: Na verdade, eu tento fazer uma previsão, a fim de tirar umas férias aqui ou ali... E tento conciliar com as férias das crianças. Para que eu consiga acompanhar e organizar a vida, a casa e os filhos. Não adianta eu tirar férias se as crianças estão na escola...
P.: A Antônia estreou a primeira novela (Guerra dos Sexos). Você sempre soube que ela seguiria a carreira de atriz?
G. P.: Ela sempre demonstrou que seguiria esta carreira. Eu até achava que também poderia ser diretora, porque ela sempre teve uma visão cênica. Era incrível porque, quando a Antônia era pequenininha, montava espetáculo... Ela era louca pela Sandy. Imitava e cantava, colocava o primo pra fazer junto... E dependendo da quantidade de amigos e primos, ela arrumava emprego pra todo mundo. Havia o iluminador, o contrarregra, segurança e até coro... (risos). Eu acreditava que ela talvez fosse trabalhar com teatro de alguma forma. Ou como realizadora ou atriz, mas ela foi caminhando para as artes cênicas.
P.: Mas você ficou feliz com a escolha dela?
G. P.: Fiquei felicíssima! Vim para São Paulo receber um prêmio e logo depois marquei um jantar com o Silvio (Abreu). A primeira coisa que ele me falou foi que a chamaria para fazer um teste e perguntou se eu acharia ruim... Como eu poderia ficar chateada?! Achei maravilhoso! A Antônia é muito séria e dedicada. Na época, eu nem comentei nada com ela, guardei segredo, no entanto, dias depois, ela me contou toda feliz, emocionada! Os meus filhos sabem como funciona a rotina de uma atriz. Que sinceramente não é fácil. São oito meses em que você não tem espaço para fazer mais nada. E a família, nesse momento, é que sofre e termina compreendendo esse momento. Mas apesar disso tudo, tanto a Cléo (Pires) quanto a Antônia (Morais) decidiram trilhar esse caminho. Só posso ficar feliz!
G. P.: Ele andou muito envolvido em dizer que quer ser super-herói... (risos) Ele andou comentando que gostaria de ser cantor e mágico... Tudo a ver, né?! (risos)
P.: Os anos têm sido generosos com você. Aos 50, você continua exibindo belíssima forma e pele impecável... Como consegue manter-se assim?
G. P.: Eu sou ortomolecular... Eu gosto de comida orgânica, faço ioga e práticos alguns exercícios. Mas sem dúvida, ser feliz é a base de tudo. Se você está feliz com o que está fazendo, com o trabalho, com a relação amorosa e a família, possivelmente estará bem. Isso me dá um gás pra seguir em frente! E claro as oportunidades maravilhosas, que graças a Deus não param de chegar! As pessoas falam: ‘Mas você não para de trabalhar’... Mas são convites irrecusáveis. Eu não posso falar que vou tirar férias, porque não estou a fim e não dá. São oportunidades que tenho de aproveitar e agarrar.
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