Gloria Pires: "Não somos uma família perfeita, nos adoramos com as nossas falhas"

Atriz comemora todos os títulos e personagens que a vida lhe deu, mas ainda sonha em exercer um papel na vida real: ser avó. 


Atriz, empresária e, desde os 19 anos, mãe. Aos 53, Gloria Pires comemora todos os títulos e personagens que a vida lhe deu, mas ainda sonha em exercer um papel na vida real: ser avó. Às voltas com a leitura dos textos da segunda temporada de Segredos de Justiça, série do Fantástico da qual é protagonista, ela está cheia de projetos para o Bemglô, marca e site inspirados em seu lifestyle. Neste bate-papo, ela confessa que não vive sem a companhia da cadelinha Biju nem esconde sua corujice pelos quatro filhos - Cleo Pires, 34, Antonia Morais, 24, Ana, 16, e Bento, 12. E ainda comenta seu casamento com Orlando Morais, de 54. 

Você está casada há 28 anos com o Orlando. Qual é a receita do sucesso? 
Quando se fala em sucesso parece que existe uma receita. Mas não há. O que eu e Orlando temos é disponibilidade para discutir os assuntos e chegar a um consenso. Vivemos em um ambiente de paz. 

Como manter o romance? 
Muita gente prioriza outras coisas e esquece do casamento. Vê a relação como um jogo ganho: ‘Está tudo bem, já estamos juntos há 28 anos, então não tenho que fazer mais nada’. Nós tentamos manter o prazer, o frescor, a vontade de compartilhar, de descobrir coisas, de trocar, de se ligar durante o dia e perguntar: “E aí? Tá tudo bem?” 

“Não fui mãe por acidente (...) Senti o chamado da maternidade" 

Ele continua morando em Paris e você no Rio? 
Ele se divide. Mas vem muito para cá. E eu às vezes tenho um espaço entre um trabalho e outro e dou uma fugidinha. Mas vou mais nas férias mesmo. 

Como foi a sua criação? 
Na minha casa sempre se falava de tudo. Meu pai (o ator e humorista Antônio Carlos Pires) era um cara muito parceiro da minha mãe (a produtora e empresária Elza). Tinham intimidade e uma amizade muito forte e constante. Nada de “Ah, o serviço da casa é da mulher”. Minha mãe ia para a rua e meu pai ficava em casa ou vice-versa. A nossa realidade era de que todo mundo é igual. Eles compartilhavam a vida como um todo. 

Exatamente como sua relação com o Orlando... 
Freud explica, né (risos)? Acabamos reproduzindo o que a gente aprende. 

Você acha que há um ressurgimento do feminismo? 
É uma releitura. A mulher está num lugar diferente daquele dos anos 60. Mas existem questões remanescentes. E existem novas. O bom senso é tudo na vida. Infelizmente, a gente não pode achar que todos os lares são serenos, amorosos, pacíficos e igualitários. Então, esse assunto precisa estar sempre na roda. 

O que sente ao ver Cleo e Antonia tão bem encaminhadas profissionalmente? 
Fico, lógico, superfeliz! Nunca moldei meus filhos nem fiquei esperando que eles fizessem suas vidas de uma forma que me agradasse. Para mim isso é uma coisa fácil. Mas para muita gente não é. A vida é tão breve e tão maravilhosa! Sou tão fã das minhas filhas, do meu filho. Isso pode dar a impressão de que é uma família perfeita. Não é. Eu não sou, o Orlando não é e nenhuma das crianças é. Somos humanos e nos aceitamos e nos adoramos com as nossas falhas. 

Você identifica dons artísticos no Bento e na Ana? 
A Ana participou de um episódio da série As Brasileiras comigo (A Mamãe da Barra, em 2012) e depois não se interessou em fazer mais nada como atriz. Ela está envolvida com música, toca piano e canta muito bem. Não sei se ela vai seguir, mas tudo leva a crer que sim. E o Bento é uma figura! Já teve a fase de ser policial, aí sabia tudo sobre armas. Também teve a fase de fazer kung fu e queria ser o Bruce Lee. Depois ele quis ser mágico, fez sapateado, dança, piano, violão. Tem um jeito natural para absorver tudo que é de seu interesse. Isso pode ser interpretado como um dom de ator. O ator absorve coisas que não têm necessariamente a ver com a profissão dele. Mas pode ser que não seja nada disso. Outro dia, ele estava dizendo que queria ser um business man. Tem só 12 anos e cada dia é uma novidade. 


E a Biju? O que ela significa para você? 
Somos inseparáveis. Dorme comigo e não deixo ninguém dar banho nela. Minha sogra deu a Biju de presente para o Bento e para a Ana. Mas eles se ressentiam porque ela não é de uma raça brincalhona. Então virei a vovozinha dela (risos). 

Você pensa em ser avó de verdade? 
Fui mãe bem cedo, aos 19 anos. Portanto, me preparo para ter um neto há muito tempo! Não fui mãe por acidente, não fui mãe por descuido. Eu senti o chamado da maternidade. 

Como foi isso? 
Eu tinha acabado de fazer meu primeiro filme, Índia, A Filha do Sol (1982), e ficava louca com aqueles indiozinhos. Sonhava que estava sempre com uma criança, cuidando, dando banho. Já tinha minha independência financeira, trabalhava, podia sustentar um filho. 

Cleo e Antonia já estão dispostas a lhe dar um neto? 
A Cleo às vezes acha que estou cobrando, fazendo pressão... Longe de mim. Cada um tem o direito de fazer o que quiser, no tempo que achar melhor, respeito demais isso. Então, nada de pressão. Mas deixa eu fazer um comentário... (risos). Todo mundo já é avó! Outro dia encontrei a Júlia Lemmertz e ela disse: ‘Vou ser avó!’ Falei: ‘Gente, não é possível!’ (risos). 

Como você faz para se dividir entre atriz, mãe, empresária...? 
Com o bom e já velho Whatsapp (risos). Mas sei a hora de desligá-lo também, para não enlouquecer. 

E desliga mesmo? Desligo! E vou mudando a chavinha na cabeça: “Agora preciso ler este episódio, agora tenho que resolver a questão da escola do Bento, agora é a hora do Bemglô...” 

Você acabou de se despedir da série Segredos de Justiça, do Fantástico. Quais são seus próximos projetos? 
A série terá uma segunda temporada. Mas não sei ainda quantos episódios serão. Também estou em um projeto de um longa-metragem. E, além disso, tenho o Bemglô. Eu e a minha sócia, a Betty (Prado, ex-modelo), estamos desenvolvendo uma linha de cosméticos que não é só para o lado de fora, é para o lado de dentro também. Vem coisa boa aí...

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