Gloria Pires sobre a maternidade: “Não sou do tipo que impõe”

Mãe de quatro filhos, a atriz acredita que a conversa franca e o suporte incondicional são fundamentais para manter uma boa relação com eles.
Por Alessandra Medina 

Gloria Pires está sendo maquiada quando Ana, 16 anos, e Bento, 12, chegam ao estúdio para a sessão de fotos de CLAUDIA. A atriz, 53 anos, pede licença à maquiadora e vai falar com os filhos. Dá um selinho na boca de cada um, diz que estava morrendo de saudades e pergunta como foi a escola. 

Ao ver no braço do caçula o desenho de uma teia de aranha feita com canetinha, cai na gargalhada. “Ele é louco para fazer uma tatuagem, mas agora não pode, né? A Ana já tem quatro”, diz ela, calma. 

Na vez de a filha se arrumar, a atriz não resiste, pega o celular e começa a filmar. “É muito gata essa menina”, repete sem parar. O caçula também é alvo da admiração da mãe. Gloria se senta ao lado do filho e fica olhando o menino fixamente em silêncio. Está tão concentrada que quase não ouve o chamado para experimentar o figurino. “Desculpa, gente! Estou babando aqui”, responde aos risos. 

Mãe ainda de Cleo, de 34 anos, de seu relacionamento com o cantor Fábio Jr., e de Antônia, 25, a mais velha do casamento com o também cantor Orlando Morais, sente orgulho da relação que tem com os quatro. 

 “Sou muito aberta e franca com eles. Gosto de abraçá-los e beijá-los o tempo todo, mas, o mais importante, é que eles sabem que não existe assunto proibido comigo e que podem contar sempre com o meu apoio e compreensão”, afirma ela. 

A atriz sabe da importância do suporte familiar por experiência própria. Aos 19 anos, engravidou de Cleo e foi com a ajuda dos pais, o ator Antônio Carlos Pires e a empresária Elza Pires, que criou a filha. “Fiquei muito sozinha, mas eles me deram todo o amparo de que precisava.” 

Foi em 1981 que a carioca teve certeza de que queria uma família grande. Ela estava passando dois meses em uma tribo indígena no Tocantins para a gravação do filme Índia, a Filha do Sol, quando teria recebido um chamado: “Foi uma experiência extrassensorial. Olhava as crianças e imaginava meus filhos”, recorda. 

O plano ficou suspenso até conhecer o atual marido, Orlando, com quem está casada desde 1988. “Foi um encontro de almas. Ele é companheiro, amigo, compreensivo. Sabia que seria um superpai. Porque não é só ter um marido, é ter alguém que esteja com você, que dê apoio”, acredita. 

O casal comemorava cinco anos de união quando nasceu Antônia. Oito anos depois, veio Ana. Gloria chegou a sofrer dois abortos espontâneos até engravidar de Bento. “Ele tinha que nascer. É o mais calmo, um doce.” 


Cada filho tem uma personalidade própria. Cleo, desde criança, é a mais independente. Já Antônia é geniosa, e Ana, pavio curto, embora também seja a que adora cuidar da família. Hoje em dia, reunir todos é quase uma operação de guerra. Orlando está sempre viajando com o grupo Rivière Noire. 

Cleo, no momento, se divide entre São Paulo e as filmagens de um longa no sul do país, e Antônia anda envolvida com as gravações da novela Rock Story (na qual vive a DJ Manu). 

 “Não abrimos mão de estar juntos em datas festivas e aniversários. No dia a dia, gostamos de ficar em casa, curtindo a piscina, assistindo a um filme ou jogando sinuca. E tudo sempre acaba em música, é claro”, diz Gloria, que manteve um quarto para as filhas mais velhas na casa nova que construiu, na Barra da Tijuca, no Rio. 

 “A saída da Cleo foi aos poucos, mas, desde que ela era pequena, sabia que seria do mundo. Já a mudança da Antônia foi um baque. Ela dizia que nunca sairia de perto, que, se casasse, moraria com o marido junto com a gente”, diverte-se. 

Com pais artistas, não é de espantar que os filhos tenham herdado alguma vocação. Cleo e Antônia estão seguindo os passos da mãe. Ana, que toca piano e violino muito bem, pensa em ser cantora. Bento já cogitou ser mágico, agora quer ser empresário. “Não sou o tipo de mãe que impõe. Meu conselho é que escolham algo que dê prazer, porque ir atrás disso será mais fácil.” 

Com filhos tão independentes e bem resolvidos, é raro que algum deles venha pedir conselhos ou discutir sobre projetos com Gloria. Aliás, não é difícil que justamente ela seja a última a saber do que acontece. 

Por exemplo: só descobriu que Cleo tinha se tornado atriz em 2003, quando a filha já estava filmando o primeiro longa, Benjamim, baseado no livro de Chico Buarque. Antônia gravou o álbum Milagros, em 2014, com músicas de hip hop que compôs sozinha. Gloria só viu o disco pronto. “Também sou assim: primeiro analiso e vejo no que vai dar. Já o Orlando é o oposto, conta tudo para todo mundo logo de cara”, diz ela. 

Apesar de se declarar discreta e introspectiva, Gloria tem gostado cada vez mais de dividir suas reflexões pessoais na internet. Ela tem um site, o Bemglô, no qual publica conselhos, dicas sobre estilo, beleza e cultura, registros de viagens, sugestões sobre casa e família e vende produtos variados (como artigos para cachorro e móveis). 

A atriz também abastece sua conta no Instagram todos os dias. “Internet é uma faca de vários gumes. É uma ferramenta maravilhosa se essa não for a sua única forma de se relacionar com o mundo. Nada substitui o toque, o olho no olho. Converso muito sobre isso com meus filhos e compartilho pesquisas sobre o assunto. Também digo para tomarem cuidado com o que postam porque não são jovens desconhecidos. E que, se tiverem algum problema, que venham falar com o pai e comigo”, diz. 

Mesmo com idade e personalidade diferentes, Cleo, Antônia, Ana e Bento veem na mãe um porto seguro. E ela neles. “Não somos uma família perfeita. Somos reais, temos problemas e defeitos. A diferença é que estamos abertos para dar apoio e amamos uns aos outros. Isso é maravilhoso.”

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