“Bem longe da aposentadoria”, garante Gloria Pires

Atriz, que está no ar como Irene de Terra e Paixão, bateu um papo exclusivo com a coluna sobre vida, família, carreira e as novas aventuras 

Por Fábia Oliveira 
Site Metrópoles
Data 30/07/2023 

Em um bate-papo exclusivo com a coluna da Fábia Oliveira, Gloria Pires falou sobre família, carreira, as novas aventuras pelo negócio de cosméticos, os novos projetos para quando seu contrato com a TV Globo terminar e os desafios de viver mais uma personagem intensa, como foi a Maria de Fátima, de Vale Tudo. 

Veja a entrevista completa: 

Como está a reação das pessoas nas ruas por conta da Irene? 

Eu tenho andando bem pouco nas ruas porque a rotina de trabalho está intensa e animada. Mas nas redes sociais as pessoas têm falado bastante da Irene, tanto pelas cenas dramáticas (como as que vieram a partir da morte do Daniel) ou as sequências cheias de ironia (como a briga com Berenice), que têm trazido ótimos Memes. Walcyr é mestre em surpreender e ninguém esperava que Irene pudesse ficar ainda mais audaciosa para realizar seus planos. Temos ainda um longo caminho pela frente. Fazer novela é um prazer trabalhoso (risos) e não posso deixar de citar a nossa equipe gigante, não somente pela quantidade de profissionais envolvidos, mas pela qualidade dessas pessoas dedicadas, uma cadeia produtiva gigante, que se inicia desde que passo o meu crachá na catraca dos Estúdios Globo. 

 Você é tida no meio artístico como uma pessoa gente boa… Fazer uma vilã é um exercício? 

Toda personagem é desafiadora porque o ator precisa adentrar um novo lugar, diferente de sua própria vida. Fazer novela traz um outro desafio que é o próprio tempo que dura a obra. Num espaço de 8 meses, um ano, tudo pode acontecer. Então, procuro não descuidar da mente e do corpo para seguir firme até o fim! Quando estou me caracterizando, já começo a me concentrar. É um momento importante para mim. Gosto de ficar ali, com o meu texto, já me preparando para o que será gravado durante as próximas 10h. Cada ator tem o seu processo. Quando coloco o pé no estúdio, a minha energia está toda voltada para a cena. Quando saio, só penso em chegar em casa e distensionar num banho quente! Lidar com emoções faz parte da rotina de quem interpreta, de quem é ator, mas o corpo e a mente não sabem que é mentira, disparando códigos que o organismo reconhece como ‘perigo’, ‘tristeza’ etc… É uma verdadeira maratona emocional. 

 Você completa 60 anos em agosto e continua linda! Qual é o segredo? 

Ah, obrigada! Acredito que a beleza seja o fruto de uma construção que começa pelo autoconhecimento e autocuidado. Mas essa construção que falei é no sentido de entender e respeitar seus próprios limites. É ter a liberdade de querer mudanças sem abrir mão de ser afetuosa consigo mesma. Eu sempre cuidei muito do meu corpo físico, da minha saúde mental. Eu sempre escolhi me alimentar bem para estar saudável e apta para exercer meu trabalho. Mas nunca fui radical em relação a nada. Uma vida de privações não combinaria comigo, mas essa medida é muito pessoal. Gosto mesmo do caminho do meio, de saber dosar, de buscar o equilíbrio. É uma busca! 

 Por que você resolveu assumiu os cabelos brancos e deixar a tinta de lado? 

Porque me senti livre. A mudança veio chegando e eu amei o resultado. Gostei do que vi no espelho e percebi que o meu cabelo ficou bem mais saudável. Por muitos e muitos anos uma mulher se via refém do retoque de raiz, há cada 10 dias. A maturidade me fez buscar caminho da liberdade de escolha. Depois que a gente prova dessa liberdade, percebe o quanto é gostoso viver fora da caixa, do padrão.

 Quanto tempo demora pra Irene ficar pronta, por conta da lace? 

No começo das gravações, demorava mais de duas horas. Porém, com a prática e com uma dedicada equipe de caracterização chefiada por Gilvete Santos, estamos fazendo em 50 minutos. Depois, o figurino leva mais 10 minutos. 

 O que você gosta de fazer nas horas vagas? 

Amo ficar em família, curtir a minha casa, estar com meus bichos e minhas plantas. É o meu refúgio, onde recarrego as baterias. É onde eu me reconecto com quem eu sou de verdade, com o que importa pra mim. Mas quando estou numa novela, como agora por exemplo, eu aproveito o tempo ‘livre’ para estudar. E eu estudo bastante. É parte do processo de atuar e eu adoro essa etapa, tão importante para um bom resultado final. Ah, e me exercito também, quando dá. Mas cuidar do equilíbrio do corpo é fundamental pra gente dar conta da rotina do dia a dia. 

Você é vegana? Como é a sua alimentação? Todos na sua casa são veganos ou você tem uma comida especial? 

Sou ovolactovegetariana. Mas na família cada um tem liberdade para escolher sua dieta. Para mim, a ficha caiu aos 12 anos, lendo a biografia do Mahatma Gandhi. Toda transformação tem um ‘click’, mas a manutenção disso é construção diária e eu costumo dizer que estou no meio de um processo. Assim, surgiu a Bemglô, em 2014 — um marketplace de consumo consciente e sustentável, onde compartilho as práticas que tanto me tocam: economia circular, comércio justo, feito à mão e com design e insumos brasileiros. Em 2017, abrimos nossa loja física, na Rua Oscar Freire, em São Paulo. Agora nasce a Bemgloria, no segmento de cosmética natural, com produtos biodegradáveis, distribuindo renda para os coletores e tendo parte da venda revertida para essa comunidade. Eu acredito que essa consciência também se reflete no respeito ao outro. 

 Você está lançando uma linha de produtos veganos. Por que seguir essa área? 

Como eu disse na resposta anterior, isso começou com uma mudança de vida que se concretizou com a Bemglô. Há tempos planejava lançar uma linha de produtos de higiene pessoal com o propósito de diminuir os impactos de nossa passagem pela natureza, com o consumo mais consciente. Estou muito feliz com o resultado. Ver o produto pronto, sendo usado e elogiado é motivo de muita alegria. 

 Seu contrato com a Globo foi rescindido? Você cansou de atuar? Vai se dedicar mais ao seu lado empresária? 

Não foi rescindindo, não. Esse contrato chegará ao fim em janeiro e não será renovado. Mas nada impede que eu faça trabalhos na própria TV Globo e em outras produtoras. Na prática, não muda muita coisa, é apenas um novo modelo de negócio. Não me cansei de atuar, ao contrário, me vejo muito distante deste momento, se é que ele vai chegar! Acredito que continuarei produzindo e atuando, com liberdade de transitar por outras plataformas e outros formatos de produção de conteúdo. A verdade é que o mercado se abriu, se ampliou. Basta olhar ao redor e ver quanta coisa está em fase de produção! Novos espaços para novelas, séries excelentes sendo criadas e produzidas. Isso deixa tudo mais interessante. E tem ainda o cinema, outra grande paixão. Não me vejo mesmo vivendo muito tempo fora dos sets. A delícia da vida é conciliar tudo isso! 

Maria de Fátima é um dos seus principais personagens. Acha que a Irene é (ou ainda pode ser) tão odiada quanto ela? 

Olha, Maria de Fátima tinha algo que a tornava muito detestável, que era essa capacidade de maltratar a própria mãe. Irene tem na manipulação a sua maior arma. Ela enfia a faca no outro enquanto sorri. Então, fica difícil comparar essas duas mulheres tão diferentes. Ela acessa no público sentimentos muito distintos que se reverberam através da raiva. Mas Irene já figura no meu mural de vilãs. 

 Verdade que a sua condição para aceitar fazer Irene era ter Tony Ramos como seu par? 

Não, embora seja sempre incrível reencontrá-lo em cena. Tony é um parceiro da vida! Nem vou começar a elogiar porque vou chover no molhado. Falar do seu talento? Do seu profissionalismo? Não tem uma pessoa que tenha trabalhado com ele e que não ressalte essas características todas. O que posso dizer é que, mesmo que façamos 200 pares românticos, eu ainda aprenderei muito com ele em cena. E fora dela também! 

 Quais são os seus projetos pra quando a novela acabar? Streaming? 

Por enquanto, foco total na novela. Mas tenho a finalização do documentário que dirigi e produzi sobre o Balé Folclórico da Bahia e a filmagem do longa que irei dirigir e atuar, Sexa!, além de um projeto muito instigante com Whindersson Nunes e do lançamento do longa, Vovó Ninja, em breve, nos cinemas. 

 Quem é a Gloria Pires fora de cena? 

Sou prática e gosto de levar a vida com leveza. Se complicar, eu fujo (risos). Amo estar com os meus e quem me rodeia diz que eu sempre tenho uma receita caseira para tudo o que falam. 

 Você ainda não tem netos. Rola uma pressão pra algum dos seus filhos te darem um neto? 

Dizem que ser avó é duplicar o amor de mãe. Eu adoraria experimentar logo esse sentimento, mas não pressiono, não. Cada mulher tem o seu tempo. A maternidade não pode ser imposta, é uma escolha com muita responsabilidade envolvida. Mas eu vou ser uma avó muito coruja, babona mesmo, daquelas que sairá mostrando a foto dos netos para os amigos… 

 Como você se vê daqui a dez anos? 

Ai, que pergunta mais difícil, porque a gente muda o tempo todo. A gente muda o que pensa, o que deseja e o que planeja. Mas eu me imagino ativa, trabalhando, produzindo, seja como atriz ou como empreendedora. Lido com o passar do tempo de forma cada vez mais leve, focando na qualidade de vida. Eu me vejo bem longe da aposentadoria!

Fontes:
Fotos Instagram @gpiresoficial

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