Gloria Pires e Cássio Gabus Mendes gravam 'Babilônia', próxima novela das 21h, em Paris
'A minha personagem é mais oportunista do que uma verdadeira vilã', define atriz, que rodou cenas no Jardim de Luxemburgo e no Museu Rodin
Por: FERNANDO EICHENBERG - 07/12/2014 6:30
Por: FERNANDO EICHENBERG - 07/12/2014 6:30
PARIS - No frio de 3°C, em plena Place des Vosges, no charmoso bairro Marais da capital francesa, Gloria Pires e Cássio Gabus Mendes se preparam para gravar mais uma cena da próxima novela das 21h da Globo, sob os atentos olhares dos diretores Dennis Carvalho e Maria de Médicis. Alguns takes bastam para que a equipe embale todo o material de filmagem e rume para o próximo cenário, a bela ponte Alexandre III. O primeiro capítulo do folhetim que irá substituir “Império” no horário das 21h, em março do ano que vem — com título provisório de “Babilônia” e roteiro escrito por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga —, se passa em Paris, dez anos antes do tempo real da trama.
Durante três dias da semana passada, foram gravadas cenas em oito diferentes endereços da Cidade Luz. Carvalho fez uma única exigência aos autores:
— Eu só não queria cenário com a Torre Eiffel! Sempre colocam a Torre de fundo. Mas consegui tirar, graças a Deus! — conta, aos risos, o encasacado diretor de núcleo.
A produção mobilizou uma equipe de quase 50 pessoas para a operação Paris — sendo 19 delas vindas do Brasil. Os atores contracenaram também no belo décor do restaurante La Tour d’Argent, com ampla vista para a catedral de Notre-Dame, e depois no Jardim de Luxemburgo e no Museu Rodin.
— O frio atrapalha um pouco, mas o maior problema é que escurece cedo nesta época, e, assim, perdemos a luz do dia, mas tudo está correndo bem. E com a Gloria já trabalhei uma meia dúzia de vezes, desde “Dancin’ days” (1978), nos conhecemos bem, e isso ajuda muito também — afirma Carvalho, que vinha de gravações em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com os atores Adriana Esteves, Sophie Charlotte e Tuca Andrada, “e onde fazia 45°C!”, acrescentou.
Gloria interpreta Beatriz, uma ambiciosa viúva que não mede esforços para conquistar seus objetivos, usando sua esperteza e abusando de sua sexualidade.
— Não diria que é ninfomaníaca, mas ela aprecia o esporte. Para o personagem, me inspirei nas antagonistas de James Bond, uma mistura de sedução com vilania e astúcia. Ela pratica tiro. Tem uma pegada meio “topo da cadeia alimentar”. Ela está pronta para o que der e vier, é a chamada “preparada” — resume, rindo, a atriz, em seu diminuto camarim no trailer da produção, no encerramento das filmagens do dia.
MAIS OPORTUNISTA DO QUE VILÃ
Na trama, Beatriz mente para Evandro, viúvo bem-sucedido interpretado por Cássio, para poder levá-lo a Paris e seduzi-lo: inventa que a mulher dele, recém-falecida, tinha manifestado como último desejo ter suas cinzas jogadas no rio Sena. Na capital francesa, ela recorre a sedutores artifícios para atrair sua presa.
— Beatriz é mais oportunista do que uma verdadeira vilã. Ela acaba cometendo um crime, mas porque se sente ameaçada. Está quebrada, vive de aparências, planeja um casamento de situação com Evandro. Ela se une a um político corrupto, abre uma empresa de fachada para realizar obras superfaturadas. Mas não vai ficar perseguindo os outros durante toda a novela, a vilania dela é algo mais circunstancial — define.
Em certos aspectos, a ficção converge com a realidade dos dias de hoje, mas por obra do acaso: a história começou a ser estruturada pelos autores há cerca de um ano.
— Evandro é um empreiteiro sem escrúpulos, e um bon vivant. Uma coisa nova — diz Cássio, em tom de ironia.
FARINHA DO MESMO SACO
Segundo o ator, em Paris, seu personagem está sofrendo com a morte da mulher. Ele se deixa seduzir por Beatriz, mas não é mocinho na história:
— Gambá cheira gambá. Não tem santo na praia. Vamos ver o que vai acontecer. Estão desenhados conflitos entre os dois que serão muito interessantes — anuncia o ator, que fez par com Gloria na já clássica “Vale tudo” (1988), outra novela escrita por Gilberto Braga.
Evandro e Beatriz “são farinha do mesmo saco”, concorda Gloria, dois personagens muito parecidos em sua essência:
— Eles têm um casamento confortável, ela resolve a vida dele e, ao mesmo tempo, promove coisas em seu próprio interesse. Um usa o outro.
Para Carvalho, a trama está centrada na ambição do ser humano, suas fraquezas e angústias, elementos geradores de discórdias e enfrentamentos:
— A novela trata dos conflitos dramáticos de inveja, de ciúme, de conquista e de ambição dos personagens de Gloria, Adriana Esteves e Camila Pitanga. São estas três mulheres que carregam a história.
SEM LEVANTAR BANDEIRA GAY
Além delas, outro personagem feminino que marcará a trama, na opinião do diretor, será o de Fernanda Montenegro, lésbica na novela.
— Não será nada polêmico — explica ele: — E, sim, algo como pano de fundo, tratado com muita elegância, carinho e respeito. Será legal como novidade, duas pessoas de mais idade casadas, morando juntas (sua companheira será Nathalia Timberg). Mas não é para levantar uma bandeira gay. A bandeira a ser levantada pela novela será a da dignidade e a da honestidade, por meio dos personagens de Camila (a mocinha, moradora da comunidade do Morro da Babilônia) e de Thiago Fragoso (um advogado idealista).
Consciente da concorrência de outras mídias e programas, como as séries americanas, Carvalho acredita no longevo sucesso do gênero:
— Sempre que se tem uma boa história, com um bom elenco, se consegue segurar o público para acompanhar a novela. É algo que existe há muitos anos, o estímulo visual se modernizou, mas nada supera uma boa história. O que mantém o espectador é a emoção. Não se pode clipar muito, fazer muito rápido, senão fica uma coisa fria.
Vestida toda em preto — blusa, botas e calça de couro — para sua última cena do dia, a “Bond girl” Gloria revela que, após o término da novela, pretende passar um período mais longo de férias com a família justamente em Paris, cidade em que já morou por uma temporada. Em meio à correria das gravações, a atriz confessava ter sentido uma certa nostalgia:
— Mas sempre que posso eu dou um pulo na cidade. O Orlando (Morais, seu marido) ainda continua aqui. A coisa que mais gosto de fazer em Paris é me perder. Descer na estação de metrô errada, entrar num café, numa livraria... Tudo é bom fazer aqui — brinca Gloria, que naquela noite planejava jantar no restaurante Le Pario, de seu amigo e chef brasileiro Eduardo Jacinto.
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