O brilho de Glória em "É proibido fumar"


Enviado por André Miranda, de Brasília - 23.11.2009 4h16m.

Comédia romântica no início, humor negro no meio e um final bem criativo. "É proibido fumar" foi, até a noite deste domingo, a produção mais comercial exibida pela competição da 42a edição do Festival de Brasília. Mas isso não significa que o longa-metragem de Anna Muylaert se rende a uma trama óbvia, piadas fáceis ou corpos sarados para atrair o espectador. Seu mérito, apesar de raro no cinema brasilerio, é mais simples: um roteiro, também assinado por Anna, instigante.

No palco do Cine Brasília, a diretora dedicou a sessão aos músicos brasileiros, dos cantores de churrascaria ao maestro Heitor Villa-Lobos, cuja morte completou 50 anos no último dia 17. Mas foi a produtora Sarah Silveira, como de costume, que roubou a cena com seu jeito informal de agradecer aos patrocinadores e fazer comentários acerca de seus filmes:

- A Anna trabalhou como um cão. E é bom que os diretores continuem trabalhando bem e forte. E eu também queria agradecer a Deus pela sorte de termos a Glória Pires com a gente. Não é todo o dia que se tem uma atriz como ela.

Num festival em que Glória já foi um dos destaques do filme de abertura, como a primeira-mãe de "Lula, o filho do Brasil", a afirmação de Sarah só ajudou a evidenciar o que o público veria a seguir: a diversidade da atriz. Depois da retirante humilde e batalhadora no longa-metragem de Fábio Barreto, Glória vive a uma professora de violão de classe média em "É proibido fumar". Sua personagem, Baby, é uma mulher de uns 40 anos sem muitas ambições, que segue uma rotina comum, na qual o maior prazer é o cigarro. O papel poderia ser extremamente desinteressante se não houvesse o fator "Glória". A atriz expressa humor, angústia, ciúme, raiva, desejo. Expressa os sentimentos de mulheres como ela, que num olhar descuidado podem passar despercebidas.

Para evitar que essa injustiça aconteça, é Baby que toma a iniciativa quando um novo vizinho, Max, aparece. O personagem parece ter sido criado especialmente para Paulo Miklos: um músico desapegado, meio hipponga fora de época, com um cartaz do divino negão Jimi Hendrix na sala, mas cujo única fonte de renda é grana que ganha tocando samba num restaurante. A relação dos dois proporciona cenas hilárias, mas nunca escrachadas. Numa discussão que eles têm para saber se Chico Buarque é melhor ou não do que Jorge Ben Jor, qualquer espectador pode se ver na tela. A câmera quase não se movimenta durante o filme, deixa apenas que as cenas falem por si. São a relação dos personagens e seus diálogos que importam. É uma típica comédia romântica, diferente apenas do filmes de Hollywood por seus protagonistas serem pessoas reais que não se preocupam em posar para cada cena como uma afirmação de padrão de beleza.

Só que, pouco depois da metade da projeção, a trama ganha um toque de humor negro. É quando Baby e Max revelam do que são capazes em situações extremas, o que aumenta a graça de "É proibido fumar". Se o longa-metragem de Anna Muylaert já tinha uma agradável leveza, a reviravolta na história dá a ele inteligência para construir um desfecho criativo e nada moralista.

Acrescenta-se ainda ao filme uma série de personagens coadjuvantes, um tanto caricatos para favorecer o humor. Marisa Orth vive a irmã com quem Baby briga para herdar um sofá. Antônio Abujamra é o síndico do prédio que comenta com Baby que seu neto "já tem até pentelhos". Paulo Cesar Pereio faz o dono do restaurante que só quer ouvir samba. Já Lourenço Mutarelli está hilário como o cínico dono do apartamento que Max aluga.

"É proibido fumar" é o único filme exibido em Brasília que deve chegar aos cinemas ainda em 2009: sua data de estreia está marcada para o dia 4 de dezembro.

Fontes de pesquisa:
Blog do bonequinho (link original, aqui)
Site oficial "É proibido fumar"

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