Gloria Pires vive mulheres reais no cinema
Gloria Pires como a Dona Lindu, a Nise da Silveira e a Lota de Macedo Soares
Interpretar personagens reais no cinema tem se tornado uma rotina para Gloria Pires, 48: depois de Dona Lindu, a mãe do presidente em "Lula, O Filho do Brasil" (2009), neste ano ela deu vida à doutora Nise da Silveira (em "Engenho de Dentro", de Roberto Berliner, ainda inédito) e, agora, a Lota Soares.
"Foi coincidência. As histórias da Nise (1905-1999) e da Lota têm coisas semelhantes, de formas opostas. A Nise brigou contra o tipo de tratamento que se fazia nos anos 1940: eletrochoque, choque insulínico, lobotomia. E a Lota passou por alguns desses."
A atriz elogia a determinação das duas para se imporem profissionalmente numa sociedade machista -Lota construindo o Aterro do Flamengo, e Nise revolucionando o tratamento psiquiátrico e construindo o Museu de Imagens do Inconsciente. "Acho que estamos num momento de resgate de grandes personagens brasileiros." Pires diz que interpretar mulheres reais "tem um outro sabor", mas que a dificuldade para achar o tom é a mesma da ficção.
"Todas as personagens são difíceis, principalmente para se chegar nelas. Até começar a filmar você vai por muitos caminhos, muita elucubração. Quando o diretor começa a ver as cenas é que você vai achando esse ponto." Em seu habitat mais comum, a TV, a atriz atravessa uma fase família: foi "A Mamãe da Barra" na série "As Brasileiras", em que atuou com as filhas mais novas, Ana, 11, e Antônia, 19 -com quem voltará a contracenar na nova "Guerra dos Sexos".
A atriz elogia a determinação das duas para se imporem profissionalmente numa sociedade machista -Lota construindo o Aterro do Flamengo, e Nise revolucionando o tratamento psiquiátrico e construindo o Museu de Imagens do Inconsciente. "Acho que estamos num momento de resgate de grandes personagens brasileiros." Pires diz que interpretar mulheres reais "tem um outro sabor", mas que a dificuldade para achar o tom é a mesma da ficção.
"Todas as personagens são difíceis, principalmente para se chegar nelas. Até começar a filmar você vai por muitos caminhos, muita elucubração. Quando o diretor começa a ver as cenas é que você vai achando esse ponto." Em seu habitat mais comum, a TV, a atriz atravessa uma fase família: foi "A Mamãe da Barra" na série "As Brasileiras", em que atuou com as filhas mais novas, Ana, 11, e Antônia, 19 -com quem voltará a contracenar na nova "Guerra dos Sexos".
No Set do filme "Flores Raras"
Bastidores do filme "Flores Raras"
O cenário é magnífico: uma casa projetada por Niemeyer, cercada por jardins de Burle Marx (1909-1994), na região serrana do Rio, num dia de sol. O ano é 1952, e há uma festa em curso.
A aniversariante, a poeta americana Elizabeth Bishop (1911-1979), é saudada por personalidades como o governador Carlos Lacerda (1914-1977) e a arquiteta Lota de Macedo Soares (1910-1967), criadora do Aterro do Flamengo e dona da casa. Instada a discursar, diz:
"Um brinde à rocha que escora essa casa e a tudo que parece improvável, mas não impossível".
Improvável, mas não impossível: eis uma boa descrição para a história que se desenrola a partir dessa cena, que a Folha viu ser reproduzida durante uma visita às filmagens de "Flores Raras", o novo filme de Bruno Barreto.
Bruno Barreto dirige as atrizes Tracy Middendorf, Miranda Otto e Gloria Pires
É a história do romance de 15 anos entre Bishop e Soares, duas figuras de personalidades opostas que se apaixonaram e viveram juntas os melhores anos de suas vidas, tanto emocional quanto profissionalmente, antes de uma separação de contornos trágicos, com a poeta voltando ao alcoolismo (e aos EUA) e a arquiteta se matando.
"Demorei muito para descobrir o ângulo desse filme", diz o diretor, que achou o tom após ver Amy Irving, então sua mulher, encenando o solo "Um Porto para Elizabeth Bishop", de Marta Góes.
"Aí comecei a perceber a dinâmica das duas. A Bishop era a perdedora, a fraca, alcoólatra. A Lota era o oposto, poderosa, sabia o que queria, era uma vencedora. Mas a fraca sabia lidar com as perdas, e a forte, não. Isso acabou levando-a ao suicídio."
A atriz Gloria Pires no set do filme "Flores Raras"
O diretor esclarece que não faz "mais um filme sobre artistas torturados".
"Acho esse tipo de filme muito chato. Se eu for bem-sucedido, 'Flores Raras' terá a poesia e a complexidade de 'As Horas' [2002] e a emoção e a escala épica de 'Entre Dois Amores' [1985]. Será um filme com o qual todos possam se relacionar, não precisa ser gay ou mulher", diz.
Para viver suas protagonistas, Barreto escalou Gloria Pires (que faz Lota, e atua em inglês na maior parte do filme) e a australiana Miranda Otto (da trilogia "O Senhor dos Anéis", que faz Bishop).
"Lota era a mantenedora das coisas, era receptiva, generosa. Ela podia ser um trator em certas ocasiões, mas era uma mulher extremamente refinada", descreve Pires.
Bruno Barreto dirige as atrizes Miranda Otto e Gloria Pires
Já Otto, além de destacar a identificação com o jeito introvertido de sua personagem, ressalta a importância da temporada brasileira de Bishop.
"Ela não tinha raízes, era uma pessoa que flutuava, e a vinda para o Brasil foi algo que lhe deu conforto pela primeira vez, não só por causa da Lota, mas pelo próprio país. Ela vinha de uma sociedade mais fria e chega a um lugar onde as pessoas são muito quentes, físicas."
Bruno Barreto dirige Gloria Pires em "Flores Raras"
No que tange à parte física do relacionamento, o diretor diz que não fez do homossexualismo "uma questão"; tampouco quis "ser pudico". Haverá uma cena de sexo que Pires descreve como "esteticamente refinada, nada apelativa". Será difícil filmá-la?
"Sempre é, com homem ou com mulher. Mas eu e a Miranda já criamos uma intimidade, está sendo ótimo contracenar com ela. Já fizemos cenas de beijo, de amasso."
Orçado em R$ 13 milhões e filmado em película, "Flores Raras" tentará vaga no Festival de Berlim de 2013.
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