Vilãs em 'Babilônia', Gloria Pires e Adriana Esteves gravam primeiro encontro de suas personagens

Atrizes passaram três madrugadas gravando cenas da próxima novela das 21h, que estreia em 16 de março, no Morro da Urca

Por: Natália Castro



RIO - As luzes, o tapete vermelho, as câmeras, a movimentação dos carros de luxo e, principalmente, das pessoas na entrada da estação do bondinho do Pão de Açúcar, na Urca, chamavam a atenção de quem passava pela praça General Tibúrcio, na Urca, numa recente noite de quarta-feira, por volta das 22h. Parecia que uma festança daquelas aconteceria por ali, mas não era bem isso. 

Quer dizer, era uma festa. Mas não da vida real, e sim a gravação de uma das cenas mais importantes do primeiro capítulo de “Babilônia”, próxima novela das 21h da Globo, escrita pelos autores Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, com estreia marcada para 16 de março. 

Passada em 2005, a comemoração é pelo aniversário da construtora Souza Rangel, do poderoso Evandro (Cássio Gabus Mendes), então noivo de Beatriz (Gloria Pires).

— Essa festa vai mudar o destino de Inês (Adriana Esteves) e Beatriz. Consequentemente, também sela o destino de Regina (Camila Pitanga). As três mulheres cujas vidas serão entrelaçadas a partir de um crime. O ponto de partida dessa tragédia acontece justamente nesse evento — adianta Linhares. 



A escolha do Morro da Urca, um lugar icônico do Rio de Janeiro, não foi por acaso, pontua o autor; a importância da ocasião pedia.

É no alto da pedra que acontece o decisivo encontro de Beatriz e Inês, amigas de adolescência da Praia do Leme, que não se veem há muitos anos. Elas se reveem depois que Inês, obcecada pela vida de Beatriz, consegue um convite e entra de penetra na comemoração, ao lado do marido, Homero (Tuca Andrada), que trabalha como engenheiro na construtora.

 — A rubrica do texto era a Inês se sentindo humilhada. Mas a Beatriz não a reconhece, e ela se sente desprestigiada. Acha que foi uma esnobação — explica Gloria Pires, que ficou dentro do ônibus-camarim, instalado na Praia Vermelha, até o momento do “gravando”, ao lado de Adriana, Cássio, Tuca e Val Perré. 

CRIME MARCA PRIMEIRO CAPÍTULO 

Segundo Linhares, a indiferença de Beatriz gera um choque tremendo em Inês, que a segue durante a festa e a vê com um amante, Cristóvão (Perré), motorista da família Souza Rangel. A personagem de Adriana filma o encontro e passa a chantagear a ex-amiga até as últimas consequências.

— Para se livrar da extorsão, por artimanhas de folhetim, Beatriz acaba assassinando Cristóvão e incriminando Inês. Cristóvão é pai de Regina. Ela vira arrimo de família e tem que abrir mão do sonho de estudar Medicina para sustentar a mãe e o irmão. Eles se mudam para o Morro da Babilônia e Regina vai trabalhar numa barraca na areia — adianta o autor. 

O confronto das vilãs Beatriz e Inês no primeiro capítulo coloca frente a frente atrizes que têm duas das malvadas mais famosas da história da televisão: Gloria foi a inesquecível Maria de Fátima em “Vale tudo” (1988), quando contracenou com Cássio, e Adriana marcou como Carminha de “Avenida Brasil” (2012). 

Amigas, as duas nunca haviam trabalhado juntas.

— É um prazer enorme esse trabalho, muito por causa disso. Gloria é uma atriz referência e uma pessoa realmente encantadora — elogia Adriana, que antes de “Babilônia”, rodou a minissérie “Felizes para sempre?”, recém-terminada. 

Diante de Gloria em cena, a atriz teve que passar várias emoções num só olhar. As duas não têm diálogos na primeira vez que se veem, ainda na parte de baixo do bondinho. 

— Inês admira muito essa mulher, por ser rica, famosa, linda, coisa que ela não é. Quando a vê, Inês sente uma admiração profunda, uma vontade de voltar ao passado para conviver com ela, vontade de ter a vida que a outra tem. É como se a Inês não fosse nada se a Beatriz não existisse — define Adriana. 

Mas a intensidade da cena, crucial para o desenrolar da trama, não foi a única preocupação. Os mínimos detalhes da festa ocuparam o diretor de núcleo Dennis Carvalho e a imensa equipe. Por exemplo, aparentemente simples, a cena da chegada dos casais ao bondinho começou a ser montada às 21h — horário em que a estação é fechada para visitação pública. E a gravação em si só começou por volta da meia-noite. 

— É assim mesmo. Tem que pregar tapete, ajeitar o cenário, as luzes, o gerador. Tudo demora — conta Dennis, sentado em uma cadeira enquanto acompanha a montagem frenética do ambiente. — Aprendi a ser paciente. São 30 novelas, né? 

TRÊS NOITES PARA GRAVAR A CENA 

A sequência foi gravada em três noites consecutivas. Tudo sob o comando de Dennis, que dava as ordens dentro do salão no alto do Morro da Urca, onde a festa acontece. Lá em cima, 600 pessoas participaram das gravações, 250 só da figuração. 

— Tenho uma equipe maravilhosa com vários assistentes, e cada um comanda um setor. Eu sozinho não consigo — conta ele, que reuniu a diretora-geral Maria de Médicis, e os diretores Cristiano Marques, Pedro Peregrino, Luisa Lima e Giovana Machline para acompanhar esse momento-chave da história. 

Perto das 23h30, Dennis, enfim, pega o microfone e começa a dar as últimas recomendações ao pessoal da luz: 

— Desceu muito, desceu muito. Ok, pode subir a grua. 

Em seguida, o diretor organiza a movimentação dos carros — dois com atores e quatro para figuração, todos em modelos de 2005 para trás: 

— Desce rápido. Foi o preto, vai o cinza... demorou o cinza! Tem que ser tudo mais rápido, as pessoas estão descendo muito devagar. Desce e a porta abre! 

Em meio a 95 figurantes, todos vestidos com roupas de festa — e prontos graças à presença de 15 caracterizadores e 10 camareiros — os atores chegam ao set. Enquanto Dennis ensaia com eles, o carro é limpado pela produção. O diretor explica a Perré o jeito correto de abrir e fechar a porta do carro. 

AS GRAVAÇÕES COMEÇAM... 

O primeiro “gravando” é ouvido à 0h15. Os carros se movimentam, Perré sai do volante e se prepara para abrir a porta de trás. 

— O Val ficou longe do carro e parou errado na grua. Está muito perto da câmera — avisa Dennis, interrompendo o take. — É difícil mesmo, gente. Todo mundo tem que estar bem concentrado. 


A sequência é refeita mais algumas vezes. Val Perré conta que os atores já estão acostumados à repetição.

— Não adianta sair de casa achando que vai gravar 15 minutos e voltar. Os detalhes precisam estar sincronizados. Na atmosfera da cena, o carro tem que chegar, a grua tem que parar. Eu estou dirigindo o carro e tenho que obedecer à marca, o figurante tem que passar naquela hora. Tudo isso é indispensável à dinâmica do momento. E estamos sujeitos a problemas técnicos também — analisa o ator, contando que aproveita a espera para passar o texto com os outros colegas. 

Gloria Pires concorda: — Na verdade, gravar externa é sempre muito difícil porque tem toda a questão técnica de luz, colocação, enquadramento, figuração... Toda uma movimentação que precisa ser muito exata. No estúdio, os equipamentos já estão à disposição em um lugar feito para isso — conta ela. 

Levar todo o aparato bondinho acima foi o que a produtora de arte Nininha de Médicis prefere chamar de “operação de guerra”. Para dar veracidade ao evento, que contou até com escola de samba, ela contratou bufê, alugou a louça e os móveis para criar um lounge.

—Foi como organizar um evento real. Contratei um bufê e pedi 20 bandejas de canapés, nos sabores muçarela de búfala e abobrinha, arroz negro, camarão e brie com noz pecan. As bebidas é que nunca são de verdade, são sempre cenográficas. Fizemos arranjos e colunas com flores e montamos um bar, com muitas garrafas de champagne, gelo de verdade. Tinha uma cozinha lá em cima. A vantagem é que não era uma festa muito formal, era um coquetel. Então, foi mais simples em termos de produção — detalha Nininha que, depois da gravação, precisou descer com tudo de novo: — Tivemos que revezar com os equipamentos de luz e fotografia.

Pouco antes da 1h, Adriana Esteves e Tuca Andrada, também elegantes, adentram o set. 

— Glorinha, vai ter uma fila mas você não fica nela — orienta o diretor, que, então, vira para Adriana: — Quando a Glorinha andar, eu quero você saindo, tá? 

Ele fala com os assistentes: — O Val demorou a sair, preciso que a Adriana chegue logo. E tem figurante olhando para a câmera, não pode, gente! 

Depois que a gravação começa, o ritmo é intenso. Embora seja o responsável por ditar a dinâmica do set, Dennis conta que seu foco é mesmo nos atores.

— Os assistentes que comandam os figurantes. A gente tem que delegar. E eu me preocupo com as atrizes, se não a cabeça não funciona — afirma. 

Adriana fala que adora gravar externas que envolvem muita produção. 

— É tudo tão estimulante, é muito gostoso entrar num set à noite neste lugar lindo, com essa equipe toda. Eu adoro ver essa quantidade de figurante. Acho incrível como tudo é montado e organizado — encanta-se a atriz. 

Passa de 1h30 quando Dennis anuncia: 

— Ok, senhores. Boa noite, obrigada! Valeu! Uma chuva de aplausos encerra o trabalho. 

Os atores voltam imediatamente para o ônibus, seguidos por intermináveis flashes de quem esperou a gravação terminar para tentar uma selfie com o elenco da novela. Os figurantes trocam de roupas, pegam seus kits-lanche e entram em outro ônibus. E a vida ali começa voltar ao normal.


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