Vale a Pena Ler de Novo: De volta ao batente (Entrevista de 2006)
Revista Quem 2006
Depois de um ano e meio morando em Goiânia – e de ter, aos 41 anos, o primeiro filho homem, Bento –, Gloria Pires está de volta ao Rio e às telas. Clareou o cabelo para protagonizar Se Eu Fosse Você, novo filme de Daniel Filho, e revela que fez terapia para superar a decisão da filha mais velha, a também atriz Cleo Pires, de morar sozinha
Diretor Daniel Filho conseguiu o que parecia impossível: tirar Glória Pires da tranqüilidade de Goiânia, cidade onde estava morando com a família há um ano e meio e de onde só sairia no segundo semestre para gravar Belíssima, a próxima novela das oito. A atriz decidiu antecipar a volta ao Rio para protagonizar Se Eu Fosse Você, novo filme do diretor. E resolveu clarear a cabeleira negra.
Durante as “férias prolongadas”, Glória aproveitou para cuidar da família, principalmente de Bento, o caçula de cinco meses. “Essa parada foi providencial. Refresquei a minha cabeça, tive o Bento, cuidei dos meus filhos e do meu marido, tive uma vida mais simples. Estou recarregada para voltar ao batente”, garante. Em Goiânia, ela, o marido Orlando Morais – com quem está há 18 anos – e as filhas Antônia, 12, e Ana, de 4, viveram entre um apartamento no Centro da cidade, uma fazenda a meia hora da capital e uma outra casa à beira do Rio Araguaia. Cleo, filha do casamento com Fábio Jr., ficou apenas quatro meses lá e depois foi morar sozinha em Los Angeles. “Sofri muito com a saída dela”, conta Glória, que chegou até a fazer terapia para aceitar melhor a saída da filha mais velha de casa.
Em entrevista a QUEM, a atriz desmente os boatos de que teria feito tratamento para ter um filho homem, fala sobre a perda do pai, o humorista Antônio Carlos (morto dia 28 de fevereiro), dos novos trabalhos – e do novo visual. “Todo o mundo ficou feliz com o resultado. Eu também.”
QUEM – O que a trouxe de volta ao Rio?
GLÓRIA PIRES – O convite do Daniel Filho para fazer o filme. Eu viria de qualquer maneira este ano, já estava nos nossos planos porque vou fazer a novela do Sílvio de Abreu (a próxima das oito) na segunda metade do ano. Mas nossa idéia era passar os primeiros seis meses em Goiânia e depois vir para cá.
QUEM – Cansou da vida calma de Goiânia?
GP – Imagina, a vida lá é muito boa. É uma cidade que tem tudo, mas sem trânsito. Você não perde tempo para chegar em casa. Alugamos um apartamento em Goiânia e nos fins de semana a gente ia para a fazenda. Nos feriados prolongados, ia para a casa que compramos à beira do Rio Araguaia. Foi uma sensação de férias sem fim. Pude me dar certos luxos que não tinha tempo de fazer no Rio.
“É uma novidade, para mim, fazer uma mulher tão suave. Meu tipo físico é muito marcante: sobrancelha, cabelo, olhos pretos. É muito pesado. Achei que precisava dar uma clareada [no cabelo]”
QUEM – Por exemplo?
GP – Ir constantemente ao cabeleireiro, que aqui eu faço quando tenho um evento ou gravação. Lá eu ia uma vez por semana para fazer unhas, hidratação no cabelo. Levava e buscava as crianças na escola, fazia compras, aula de pintura em porcelana, yoga. Lá o tempo rende mais.
QUEM – Voltar não ficou difícil?
GP – Não chegou a ser difícil porque não é uma situação nova. Estamos retomando o ritmo. A Antônia ficou triste por causa das amigas. A Ana não quer fazer natação aqui, porque quer a professora de lá. É uma readaptação.
QUEM – Você está há 34 anos na Globo. Como é ver sua filha começar na emissora?
GP – Foi muito emocionante gravar mensagem dos 40 anos da Globo ao lado dela. (Glória fica com os olhos cheios d'água.) Ao mesmo tempo que senti muito a presença do meu pai, estar ali com a Cleo foi uma coisa muito bacana.
QUEM – Como é ver a Cleo seguindo seus passos, ganhando prêmio, fazendo novela das oito?
GP – A novela é uma coisa complicada, trabalhosa, cansativa, mas já vi que ela sabe fazer. A prova de fogo foi o filme (Benjamim, de Monique Gardenberg), porque a gente não sabia como ia resultar. Eu fiquei muito feliz com o resultado. Ela tem maturidade.
QUEM – Teve medo das possíveis comparações?
GP – A gente sempre pensa nisso. Acho que quando o filho resolve seguir a carreira do pai dá esse medo, sim. Mas tem aquela história: a vida é assim, cheia de momentos difíceis e maravilhosos. É natural para os pais não quererem que os filhos sofram. Mas não tem jeito.
QUEM – Cleo foi estudar em Los Angeles e agora mora sozinha. Foi difícil a separação?
GP – Não pensei que seria tão difícil. Achei que estivesse preparada. Quando ela foi para Los Angeles, saquei que era a hora em que a coisa ia romper. Sofri muito. Até procurei uma terapia holística, muito legal, com cristais. Me ajudou muito a acalmar. É engraçado que racionalmente estava tudo compreendido. Sempre achei um barato ela ser independente, cuidar da vida. Só que, na hora em que a coisa aconteceu, perdi o chão.
QUEM – Como foi o convite para fazer esse novo filme?
GP – Quando o Daniel me ligou, ele não tinha nem roteiro. Me falou da idéia, eu adorei e prontamente topei.
QUEM – Sem ler?
GP – O Daniel é um cara muito experiente, sabia que ele não ia fazer uma coisa de mau gosto. Tudo o que se fez de melhor na TV até hoje foi feito por ele. As melhores novelas, as melhores séries, essa linguagem nova, essas experimentações, tudo isso foi plantado por ele.
QUEM – Ele pediu que você ficasse loura?
GP – Não. Eu que pensei. É uma novidade, para mim, fazer uma mulher tão suave. E meu tipo físico é muito marcante: sobrancelha, cabelo, olhos pretos. É muito pesado. Achei que precisava dar uma clareada. Ele ficou com um pouco de receio, porque não podia ficar uma coisa vulgar, aquela louraça. Tinha que ficar chique.
QUEM – Está preparada também para voltar às novelas?
GP – Tô pronta para voltar ao batente. O Sílvio (de Abreu, autor) tem um quê policial muito interessante. Faz bem o drama, o dramalhão, a novelona, e coloca muito suspense nas tramas
QUEM – Quando você engravidou do Bento, depois de ter tido três filhas, e de ter perdido dois bebês, surgiu o comentário de que teria feito tratamento para ter um menino. É verdade?
GP – Não, não fiz nenhum tratamento. A única coisa que fiz foi ir a Brasília, onde estive no Mosteiro de São Bento, e fiquei encantada. Bento era um nome que gostaria de colocar no meu bebê que nós perdemos, já era um nome que simpatizava e rezei para São Bento. Disse que, se tivesse de ter mais um filho, se chamaria Bento.
QUEM – Depois de dois abortos, não ficou com medo de engravidar novamente?
GP – Não. Minhas gestações sempre foram maravilhosas. Não aconteceu de aqueles dois bebês florescerem, sabe Deus por quê.
QUEM – Queria muito um filho homem?
GP – Queria ter mais um filho, queria ter quatro. Mas também não foi aquela coisa: vamos ter um filho, vamos fazer tudo para isso. Tanto que a gente não fez tratamento nenhum. Tratei da minha anemia, fiz ginástica, yoga, curti a vida. Quando relaxei, aconteceu.
QUEM – Seu pai, o comediante Antônio Carlos, faleceu recentemente. Está recuperada?
GP – É muito triste, mas ele também estava sofrendo muito. Ele tinha mal de Parkinson há 30 anos, e há uma série de problemas que vão surgindo com o tempo. Ele descansou, cumpriu muito bem o seu tempo aqui, foi um exemplo maravilhoso para as fihas, os netos, um grande amigo, um grande profissional.
QUEM – Já surgiram boatos de que você exige que canções do Orlando entrem em novelas da qual participa. Isso já aconteceu?
GP – De jeito nenhum. Já aconteceu de ter músicas dele na trilha em novelas de que eu não participava. Imagina! Como é que vou exigir uma música do Orlando numa novela?
QUEM – Vocês fazem 18 anos de casados no mês que vem. Acredita em almas gêmeas?
GP – Acredito. Acho que as pessoas se encontram e acho que aconteceu isso comigo e o Orlando.
Fonte de pesquisa:
Arquivo JPalácios
Revista Quem 2006
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