Entrevista de Gloria Pires na época da novela Belíssima em 2005

Com mais de 30 anos de carreira, Gloria Pires é unanimidade nacional. É sempre elogiada em seus trabalhos na TV e carrega personagens memoráveis no currículo. Desta vez, como protagonista de Belíssima, onde ela interpreta Júlia, uma personagem rica que teria tudo para ser glamourosa, mas é apagada e discreta, Gloria se diz especialmente feliz e desafiada. Afinal, está contracenando pela primeira vez com Fernanda Montenegro e Tony Ramos. E ainda realiza o sonho de trabalhar com o autor Silvio de Abreu, de quem é fã. Confira abaixo a entrevista que a atriz deu para o site oficial.



O que você está achando de sua volta às novelas após algum tempo afastada?
Estou especialmente feliz com a novela. Além de a trama ser muito gostosa, tanto na hora de ler os capítulos como ao ver o material pronto, é uma novela bonita, bem-feita, tem um clima de muita alegria. Mesmo sendo uma novela trabalhosa, difícil de ser feita, justamente porque tem muito cuidado, o clima é muito pra cima, é bom estar aqui com as pessoas.

O que te motivou a aceitar o papel oferecido por Silvio de Abreu?
O que me motivou foi que eu nunca tinha feito uma novela do Silvio. Ele já tinha me chamado pra fazer essa novela antes, mas eu acabei fazendo “Desejos de mulher” e ele “As filhas da mãe”, aí o projeto ficou adiado. Quando a Denise me mandou um e-mail – eu estava morando em Goiânia – dizendo que a novela ia sair eu achei ótimo: poder voltar a trabalhar com a Denise, trabalhar pela primeira vez com o Silvio, contracenando com o Tony Ramos, com a Fernanda Montenegro e com a Cláudia Abreu pela primeira vez. Essas são pessoas com quem eu sempre quis trabalhar. Estou muito feliz.

Júlia é muito discreta, contida. É mais difícil interpretar uma pessoa retraída do que expansiva?
Tudo é difícil. Não tem um momento fácil. Você tem que pensar com a cabeça da personagem, fazer com que aquilo tenha sentido. Tem autores que têm essa preocupação, que escrevem um personagem, que não fazem só uma colagem de cenas. Então é mais fácil, porque você só tem que interpretar. Difícil é quando você pega um autor que só cola as cenas e aquilo ali pode ser feito por qualquer personagem, tanto faz. No caso dessa novela, eu só estou tendo o trabalho de interpretar (risos). É maravilhoso eu atuar sem ter que me preocupar em arrumar as cenas, em consertar o que não faz sentido, o que não tem lógica. Além disso, tem esse cuidado que não é só estético. Os diretores dessa novela, encabeçados pela Denise Saraceni, têm sim um cuidado estético, mas isso não é o principal, é o bônus. O principal é a dramaturgia, a lógica da cena, a psicologia daquele personagem desenvolvida. Então, como ator você se sente muito cuidado, porque tem o diretor ali te dando toques, e não simplesmente uma pessoa que manda você sentar, você levantar.

Este cuidado em valorizar a dramaturgia e a parte estética pode ser considerado um exemplo?
Sim. Eu sinto que os jovens que trabalham na novela, os assistentes de direção, que estão começando, estão aprendendo com quem se preocupa com isso. É a mesma coisa para quem faz Jornalismo, por exemplo. Tem as pessoas que só escrevem coisas e tem quem vá atrás dos fatos, que vão fazer uma pesquisa, que vão procurar se interar daquilo que vão escrever. Quando você aprende com quem sabe, vai aprender diferente. Existe esse conceito aqui nessa novela, essa preocupação. Essa novela tem muita integração do Silvio com a Denise, tem muita confiança entre os dois. O último trabalho que fiz com a Denise, que foi Maria Moura, também teve esse cuidado.

Depois de conhecer André, Júlia vai desabrochar. Você acha possível uma pessoa mudar o estilo de vida por amor?
Ela não vai mudar seu jeito de ser, ela vai mudar o comportamento dela, a forma como ela se apresenta. Algumas coisas vão mudar em função disso, a forma como as pessoas vêem a Júlia. Eu acho que é possível sim, porque ela se sente tão amada, tão confiante, que ela quer prolongar essa sensação. Ela está feliz consigo mesma, está feliz com esse amor (André), quer agradar esse amor e está gostando de ser feliz, de ser amada. Eu acho que o amor consegue tudo. O amor vence qualquer coisa.



Como você se preparou para viver Júlia? Alguma inspiração?
Tem um filme que eu gosto muito chamado “Stanley & Íris”, com a Jane Fonda e o Robert de Niro. Os dois trabalham numa fábrica e se apaixonam. Ela o ensina a ler, o filme é muito bonito. São pessoas comuns, com o cotidiano comum. E quando cai no comum é que eu acho difícil. Um grande desafio pra mim ao fazer a Júlia é esse: ela é uma mulher rica, tem acesso a informações, vive no mesmo mundo que a avó e a mãe viviam, um mundo glamourizado, poderoso. Um mundo onde ela tem acesso e pode tudo. Então, o difícil é encontrar o porquê dela não querer, o porquê dela não ter. Ser comum usando um terno de grife. Ser apagada, mas sendo muito rica. Isso foi um desafio pra mim, pro figurino. Pra todos nós que montamos a Júlia nessa primeira fase foi um grande desafio. Porque agora que ela descobriu o amor, desabrochou, tudo é lucro.

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