Revista IstoÉ Gente: Gloria Pires sem medo da idade

Por Carlos Helí de Almeida
Fotos Nana Moraes 
Styling Márcia Maia

São 49 anos de vida – ela faz 50 em agosto do ano que vem –, 42 de carreira, 24 de casamento (e com o mesmo marido, o músico Orlando Morais), mais de 30 personagens na tevê e outros 13 no cinema. Seu filme Se Eu Fosse Você 2, aliás, é o quarto longa nacional mais visto da história, aplaudido por mais de seis milhões de pessoas. E seu nome, este ano, foi apontado em pesquisa do Ibope Inteligência como o da atriz de maior credibilidade do País: 88% dos entrevistados se emocionam, de verdade, com a atriz em cena. O superlativo dessa matemática toda faz jus a Gloria Pires.
A atriz, que brilha neste ensaio assinado por Nana Moraes, recebeu Gente no set do filme Flores Raras, de Bruno Barreto, em Petrópolis, região serrana do Rio. De cabelos curtos e ainda mais exuberante, Gloria está cheia de novidades. Além do longa de Barreto, no qual fará seu primeiro papel homossexual – o da arquiteta Lota Soares de Macedo, que namorou a poetisa Elizabeth Bishop –, Gloria ainda tem na gaveta a terceira sequência de Se Eu Fosse… e um filme sobre Nise da Silveira, fundadora do Museu do Inconsciente. A maré anda tão alta no cinema que Gloria bate na primeira madeira que vê no estúdio. “Adoro os convites que têm aparecido. É uma fase muito boa”, diz.


Como se não bastasse, ela voltará à tevê em outubro, no remake de Guerra dos Sexos, com o papel que foi de Glória Menezes na versão original. Muito trabalho? Estresse? Que nada. Basta olhar para as fotos e perceber que Gloria está nas alturas. Bem casada, com as filhas Cleo, Antonia e Ana bem criadas – as três com o seu DNA para dramaturgia –, o que ela espera agora é pelo papel de avó, enquanto ainda brinca com o filho Bento, 7 anos. Para isso, tem até cobrado a primogênita Cleo Pires, para se apressar. “Ela anda muito lenta!”, brinca. Tampouco a chegada dos 50 a preocupa. A idade, para ela, só traz benefícios. “Os ganhos são maiores que as perdas”, acredita.


A seguir, Gloria fala de carreira, conta seu segredo para a longevidade do seu casamento, do desejo de ter um neto e da saudade de Paris, onde viveu. Ah, Paris. Tudo a ver com Gloria, não?


 • Você estava morando em Paris. Mas, nos últimos anos, emendou vários trabalhos no Brasil. Tem saudade das longas temporadas que passou na França?

 • Gloria: No primeiro ano em que me mudei para Paris, voltei ao Brasil para fazer dois filmes. Morei seis meses lá e voltei no final do ano, para filmar o Lula. Passei meses aqui. Quando terminamos o filme, comecei uma novela na Globo. Depois, voltei para Paris, fiquei mais um mês lá e voltei ao Brasil para fazer o longa sobre a Nise da Silveira. Quando esse filme acabou, passei mais uns dez dias em Paris. Depois, fiz As Brasileiras e já emendei nesse novo projeto. Tenho muita saudade da cidade. Meu coração está lá.

 • Do que mais sente falta de Paris?

 • De andar de metrô. O que existe aqui no Rio de Janeiro é bom, mas funcionaria melhor se tivesse mais linhas. Em Paris, vou muito aos museus, passeio muito pela cidade. Quando me perguntam o que mais gosto de fazer em Paris, eu digo: “Adoro me perder por lá.” É assim que a gente descobre as coisas mais incríveis de uma cidade.


• O que gosta de fazer quando está no Rio, em suas folgas? 

 • Para mim, a serra é uma grande paixão. Há um ano, compramos uma casa na região serrada do Rio. Entendo totalmente a paixão da Lota por esse lugar. Durante as filmagens do longa sobre a Nise, a gente trabalhava de segunda a sábado. Daí, em alguns sábados, eu conseguia subir a serra para dormir aqui perto, em Araras, e voltar para a cidade no domingo, depois do almoço, para poder estar no set na segunda-feira.  

• E as praias do Rio?

• Faz muitos anos que não vou à praia. Teve uma época que eu ia mais a Angra dos Reis. Mas depois comecei a ficar com a pele muito manchada. Pegar sol começou a ficar mais complicado para mim. Até temos uma casa em Angra, mas raramente vamos para lá. A serra virou minha grande paixão.


• Já que você falou em As Brasileiras, o que está achando da ideia de ver Ana, sua filha mais nova, seguir os passos da mãe? 

• A Ana nunca tinha falado sobre ser atriz. Foi uma surpresa para mim quando ela aceitou fazer As Brasileiras. Ela fez um teste e eles gostaram. Mas fiquei realmente surpresa de ela aceitar o convite, antes mesmo de saber do que se tratava. Ela foi preparada para o papel e adorou a experiência. Mas não sei se ela vai seguir carreira. E não me preocupo com isso. A gente tem de dar espaço para os filhos acharem seus caminhos. É muita responsabilidade escolher uma carreira. Todo prazer tem um lado extremamente difícil, de muita dedicação, entrega. Não vou pressioná-la. Não fiz isso com a Antônia e nem com a Cleo. E não vou fazer com a Ana. 

• Por falar na Cleo… Ela já se manifestou sobre o desejo de ser mãe. Você já se viu no papel de avó? 

 • Ela se manifestou, não! Eu é que estou querendo que ela tenha um filho. A Cleo está muito lenta nessa área (risos). Brincadeira. Acho que as coisas acontecem na hora certa. Mas eu sempre achei que ela teria filho mais nova. Tenho a maior vontade de ser avó. Vai ser um momento lindo. Gosto muito da minha família, da minha casa, de estar com todo mundo. Com netos, vai ser ainda mais lindo. A vida é algo lindo. O tempo que as coisas acontecem, as renovações dentro da nossa família. Nunca tive problemas com idade, com essa coisa de envelhecer. Até porque, conforme tenho envelhecido, tenho ganhado muitas coisas. Os ganhos são maiores do que as perdas. Se fosse possível, eu não voltaria nenhum dia da minha vida.


• Você nunca passou por crises de idade, aos 30 ou aos 40? A chegada aos 50, ano que vem, não a assusta? 

 • Não me assusta. Nunca tive esse tipo de problema. Eu tive crises quando meus pais morreram. A primeira foi quando minha mãe faleceu. Eu estava fazendo Mulheres de Areia (1993). Foi uma época muito difícil. Depois, quando meu pai morreu, embora ele já estivesse doente há muitos anos, foi muito complicado. Quando papai morreu, eu estava fazendo o primeiro filme Se Eu Fosse Você (2006). Foram momentos muito tristes. Eles eram referências para mim. 

 • Como foi passar por tudo isso enquanto estava fazendo novela e filmando? 

 • São as coisas que a vida proporciona. O fato de eu estar trabalhando nesses dois momentos muito difíceis da minha vida, fazendo coisas que exigiam muito de mim, e com filhos pequenos. A Antonia tinha oito meses quando minha mãe morreu, ainda estava amamentando. Quando meu pai morreu, o Bento tinha seis meses. Acho que o fato de estar trabalhando tanto e de ter as crianças tão pequenas, necessitando da minha atenção total, me fortaleceu para segurar esses dois momentos tão difíceis.
 

• Você e Orlando Morais (cantor) estão juntos há 24 anos. Existe algum segredo para manter um relacionamento por tanto tempo?

 • Segredo, não. Acho que é só a lida da vida, a vontade de estar juntos. O que precisamos fazer é nos renovar, renovar o que nos uniu. Temos conseguido isso, da nossa forma, com altos e baixos. Existe uma vontade de estarmos juntos, apesar de qualquer coisa. Mesmo que, em alguns momentos, enfrentemos estresses enormes, sejamos engolfados pela rotina, sempre damos um jeito de sacudir a poeira e de ir em frente, juntos.

 • Como é o seu marido?

 • O Orlando é uma pessoa muito especial. Ele tem atitudes que são difíceis de se ver em homens. Ele é generoso, tem muito prazer em me ver brilhar e ser feliz. Nunca colocou em questão o fato de, em alguns momentos, eu estar mais ligada ao trabalho do que à vida em casa. Ele nunca me disse: “Você só trabalha!” Nunca me cobrou nada nesse sentido. Sempre foi muito parceiro, presente e incentivador. Sempre opinando e me ajudando em tudo.


• O que você aprendeu com a personagem Lota? Que aspectos dela acha mais interessantes? 

 • Lota era uma mulher à frente do seu tempo. Ela foi muito perseguida pelo fato de ser grande amiga do então governador Carlos Lacerda, de não ter uma formação acadêmica e por ser uma mulher independente, o que, nos anos 50, era muita coisa. Lota não tinha papas na língua, não tinha paciência para mediocridades. Nem mesmo com o pai dela, que era um homem extremamente gentil, um lorde. 

 • E também havia o fato de ela ser homossexual. 

 • Sim. A vida pública foi extremamente estressante para ela. Os homossexuais eram muito cerceados naquela época. O bonito é que, embora a Lota tivesse um visual totalmente masculino, ela tinha atitudes extremamente femininas. Isso foi lembrado pela filha adotiva dela, que está viva até hoje. Lota trazia vestidos lindos das viagens. Fazia tranças para festas juninas, enfeitava a casa em momentos festivos. Tinha um gosto muito refinado. Adorava pratarias, louças, toalhas de linho. Ela tinha essa dualidade, o que é muito interessante.


• Você está preocupada em relação às cenas íntimas que fará com outra mulher? 

 • O que me preocupa é o tom, a elegância. O Bruno Barreto (diretor) é uma pessoa elegante, relax. E a Miranda (Otto, intérprete de Elizabeth) é ótima. É lógico que beijar uma pessoa que você nunca viu na vida é muito complicado (risos). Mas se torna menos complicado quando há uma contrapartida aberta, hiperprofissional. 

 • E sobre o suicídio de Lota? 

 • É algo muito forte também. Mas até hoje não se sabe se foi suicídio ou um acidente. Ela morreu em decorrência do excesso de remédios. Nunca ficou claro se foi proposital. No testamento que deixou, Lota parafraseava o Voltaire: “Se Deus existe, ele há de me perdoar, porque esse é o metier dele” (risos). Há a dúvida se ela se matou ou não. Pouco antes de morrer, ela viajou sem ter condições de saúde, porque precisava muito estar com a Elizabeth, e voltou dessa viagem muito mal. 


JÁ NAS BANCAS!

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Comentários

Anônimo disse…
Caramba, que lindas fotos e entrevistas. Arrumei um tempinho aqui no serviço para conferir o memorial...

JPalácios
Karine Veiga disse…
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Amanda Aline disse…
' Que fotos liinda gentee quando vir esssas foto mim apaixonei ainda mais pela gloriinha ' parabéns pelos Memorial muito bom & para a glorinha pelas foto linda Adoreiii ?
Elisangela disse…
O que seria de mim sem o Memorial?? Sempre com novidadess ... amo vcss! beijãoo! ass. Elisângela Ferreira
HALINE VIEIRA disse…
GLORINHA COM VOCÊ ESTA BELA,UMA VERDADEIRA RAINHA. VOCÊ PODE ESTAR COM 49 ANOS MAIS TEM APARÊNCIA DE UMA MULHER 20 ANOS. VOCÊ SEMPRE NOS EMOCIONA COM ESSA BELEZA INCOMPARÁVEL.
VOCÊ E REALMENTE LINDA...
AS MAIS LINDAS COISAS DA VISA, NÃO PODEM SER VISTAS E NEM TOCADAS MAS SIM SENTIDAS PELO CORAÇÃO. TE AMO MUITO.
<3<3<3<3<3

Anônimo disse…
Linda demais e simples e sincera sempre