'Éramos Seis' chega à quinta versão com Gloria Pires e Antonio Calloni
RIO — Intérpretes do casal protagonista de “ Éramos seis ”, que estreia em 30 de setembro na Globo, Gloria Pires e Antonio Calloni avisam logo que não assistiram a nenhuma das outras quatro versões da novela. Querem, argumentam, fazer algo diferente. Mas não deixam de reconhecer quem veio antes.
— Tanto Irene Ravache quanto Nicette Bruno são ícones para mim — diz Gloria, sobre as atrizes que interpretaram Lola nos folhetins exibidos no SBT, em 1994, e na Rede Tupi, em 1977 (Gessy Fonseca fez a personagem em 1958, na RecordTV, e Cleyde Yáconis em 1967, na Tupi).
Da mesma forma, Calloni idolatra Gianfrancesco Guarnieri, mesmo sem ter visto o desempenho do colega como o Júlio da terceira versão, de 1977 (Gilberto Chagas, Sílvio Rocha e Othon Bastos o interpretaram nas outras).
Com esse impulso de apresentar algo novo ao telespectador e ao mesmo tempo homenagear o passado, “Éramos seis” substitui “Órfãos da terra” na faixa das 18h.
— Eu reconheço o valor de uma telenovela que perdura na memória das pessoas, então fizemos um remake com muito critério e respeito — diz a autora Angela Chaves.
O drama de época foi escrito originalmente por Maria José Dupré, no romance homônimo de 1943, mas a refilmagem atual é inspirada no texto de 1994, de Sílvio de Abreu e Rubens Ewald Filho.
Para quem vai embarcar na história pela primeira vez, a saga acompanha os seis integrantes da família Lemos, dos anos 1920 aos 1940. Lola, a matriarca, considera o casarão em que mora, na capital paulista, a alma da família. Para ela, os quatro filhos e o marido compõem uma instituição a ser preservada a qualquer custo.
— Estou trazendo toda a minha vivência para fazer a personagem — diz Gloria Pires. — O tempo inteiro estou em cena com a minha avó e minha mãe em mente, lembrando das coisas que ouvia e via, resgatando termos, hábitos e trejeitos. Estou revivendo a família que me criou.
O conflito surge quando Júlio não consegue mais arcar com os juros altíssimos do financiamento da casa, marcando o começo de uma luta contra as turbulências econômicas e sociais do início do século XX. A dificuldade financeira gera atritos no casal, que diverge sobre a importância de manter o imóvel — ou se desfazer dele. O ambicioso patriarca, funcionário de uma loja de tecidos de Assad (Werner Schünemann), está focado na escalada profissional e no enriquecimento.
— O Júlio não tem absolutamente nada a ver com um vilão — defende Calloni. — Está mais próximo de um anti-herói. É um homem trabalhador, ama a família profundamente, mas não sabe demonstrar esse o afeto porque teve uma educação rígida e apanhava do pai. A ambição dele é para dar uma boa vida para Lola e sua família.
Os quatro filhos são o educado e estudioso Carlos (vivido por Xande Valois e Danilo Mesquita, na fase seguinte), o mais velho e responsável da família; o rebelde Alfredo (Pedro Sol e Nicolas Prattes), mal aluno e pivô de confusões dentro de casa e com os vizinhos; a determinada e independente Isabel (Maju Lima e Giullia Buscacio); e o caçula Julinho (Davi de Oliveira e André Luiz Frambach), moleque carinhoso e esperto na educação financeira.
Registro da força feminina
A versão de 2019 estende tramas, dá espaço a novos personagens e retrata uma Lola mais empoderada, menos submissa e com pensamentos à frente do tempo. Em uma cena, por exemplo, diz rejeitar a ideia de que mulheres precisam se casar novas. Além disso, a autora Angela Chaves apagou falas machistas do texto original (ela não especifica quais). Nega, porém, ter feito uma obra feminista.
— É um registro da força feminina da época, mas, essencialmente, Lola pertence aos costumes do passado. A família Lemos é tradicional no sentido de ser formada por um homem provedor, uma dona de casa que parou de estudar e os filhos. Os pensamentos mais atuais começam a se manifestar em outras fases da novela — diz Angela, que diz ter buscado inspiração no filme “Benzinho” (2018), de Gustavo Pizzi, no qual uma mãe, interpretada por Karine Teles, faz de tudo para manter a família unida diante dos problemas contemporâneos.
Estas mulheres, diz Angela, representam milhões de outras brasileiras, que chama de heroínas do país.
Para o diretor artístico Carlos Araújo, a história de “Éramos seis” é contundente o suficiente para ser contada, uma duas... cinco vezes. Quem sabe seis.
— Inclusive em qualquer língua, porque fala de gente, relação humana, gerações, família, cotidiano, da luta do dia a dia. Estará sempre presente, poderá ser contada a qualquer momento.
Fonte:
OGlobo
Colaborou Luccas Oliveira
Fotos: Raquel Cunha
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