Escritora de Éramos Seis, Angela Chaves avalia trama como atemporal: “Traz para o debate conflitos universais”

Por Renan Vieira 
A escritora de Éramos Seis, Angela Chaves, disse que a nova novela das 18h, da Globo, traz elementos inéditos à trama, que já foi adaptada outra vezes para a televisão. Apesar de manter a essência, Chaves garante que a história está mais coesa, mais bem amarrada e o ritmo é mais ágil, como exigem as novelas da atualidade. E a protagonista, apesar de se manter dentro do universo de uma mulher à frente do tempo, possui um olhar mais otimista e para frente. 


 ‘Éramos Seis’ já foi revisitada algumas vezes na TV e também no cinema. Como contar mais uma vez essa história de uma família do início do século passado, quase cem anos depois? 

Antes de mais nada, é importante dizer que se trata de uma história atemporal, que traz para o debate conflitos universais. Estamos contando a história de uma família, seus laços e como seus integrantes fazem para se manterem unidos mesmo nos momentos mais difíceis. No fundo, é sobre o que une as pessoas, as relações de amizade, de parentesco e solidariedade. 

 O que o público pode esperar de diferente nesta versão da obra? 

 Pode esperar mudanças em relação ao ritmo da narrativa, a novela se torna mais ágil. Mudanças na estrutura dramática, em alguns perfis e no tom da narrativa. A narrativa é mais coesa e mais amarrada. Adaptamos algumas histórias também, como o caso de Shirley e sua família. Além disso, Lola, embora continue sendo uma mulher do seu tempo, está menos submissa, é mais ativa, e não é melancólica. Lola não olha pra trás, olha pra frente e vive a realidade do seu dia a dia. 

 Personagens femininos 

A novela traz personagens mulheres importantes, a começar pela Lola, passando por Shirley, Justina, Emília e Adelaide. Existe algo em comum entre elas? 

 É importante ressaltar que o romance foi escrito por uma mulher em 1943, Maria José Dupré, e dá voz a uma personagem feminina, dona Lola. Através da narrativa de dona Lola, do olhar dela sobre a sua vida e de seus entes queridos, vizinhos ou familiares, temos um registro do feminino da época importante. 

 Isto foi captado com sensibilidade na novela do Sílvio de Abreu e Rubens Ewald. As mulheres são a força motriz da história. Cada uma delas tem sua personalidade e sua forma diferente de agir e reagir aos obstáculos que a realidade impõe. 

 Havia regras e costumes mais opressores às mulheres, convenções e barreiras a serem transpostas, cada uma vai lidar com isso à sua maneira. Ao apresentar um olhar sobre o feminino, a novela acaba por trazer à tona debates importantes principalmente sobre a força da mulher e seu papel para manter a família, mesmo diante das adversidades. 

 Personagens humanizados 

Os personagens não são maniqueístas, né? Há muitas camadas. Pode falar sobre isso? 

 Os problemas e questões que os personagens enfrentam são decorrentes das escolhas que eles mesmos fazem ao longo da vida. Júlio (Antonio Calloni), por exemplo, é um homem que tanto pode fazer uma coisa boa, quanto ruim. 

 Ele ama a Lola, mas é um homem amargurado pelas escolhas que fez. A Emília (Susana Vieira), por um lado é egoísta, mas por outro ama muito as filhas e tem humanidade. O Alfredo (Pedro Sol/ Nicolas Prattes) apronta muito quando criança, vai mal na escola, prejudica os irmãos, dificulta da relação de seus pais. 

 Mas cresce e usa toda essa energia para lutar por algo bom. Dessa forma, temos uma novela em que não há o vilão clássico, nem o mocinho, mas personagens capazes de agir de forma certa ou errada de acordo com as circunstâncias e suas qualidades. 

 Problemática central da trama 

Qual sua expectativa ao recontar essa história? 

 Eu espero que as pessoas se emocionem com a história de uma família, que se encantem com os erros e acertos de cada um, que torçam para que fiquem felizes, e que reflitam sobre solidariedade. O romance da Maria José Dupré faz uma denúncia social importante. 

 É uma crítica a uma sociedade desigual onde o egoísmo impera, não há muitas chances de mobilidade, os ricos se mantêm ricos e os mais pobres têm poucas chances de conseguirem pagar as contas, oprimidos por inflação e juros. Essa novela fala sobre a importância de as pessoas olharem para o lado, para o outro. Enxergar a dificuldade do outro. Essa preocupação, cuidado e afeto são importantes nos relacionamentos humanos. 

 Como autora titular, Angela Chaves assinou, ao lado de Alessandra Poggi, a supersérie Os Dias Eram Assim e, agora, assina Éramos Seis. Na emissora, desde que começou como roteirista no programa Você Decide, Angela colaborou em diversas obras, como Celebridade, de Gilberto Braga; Páginas da Vida, Viver a Vida, Em Família e Maysa de Manoel Carlos; e Rock Story, de Maria Helena Nascimento. Angela tem mestrado em Literatura e, ao assinar o remake de Éramos Seis, une suas duas paixões: livros e TV. Ao seu lado, tem os colaboradores Bernardo Guilherme, Juliana Peres e Daisy Chaves. 

 Fonte: 
Observatório da Televisão
Foto: Cesar Alves

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