Com Gloria Pires e Paulo Miklos, "É Proibido Fumar" une música e comédia nos cinemas

Saiba quase tudo sobre a produção, vale a pena conferir...
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Marco Tomazzoni, iG São Paulo

SÃO PAULO – Pode parecer comédia romântica, mas é mais do que isso. Se for, é uma bem pouco convencional. Depois de roubar as atenções e levar nove prêmios no Festival de Brasília, "É Proibido Fumar" entra em cartaz nesta sexta-feira (04) querendo pegar o embalo do sucesso que o cinema nacional conseguiu nas bilheterias este ano. Ainda mais que os créditos estampam o nome de Gloria Pires, que leva nas costas quase 10 milhões de espectadores que assistiram aos dois filmes da série "Se Eu Fosse Você".

A história de "É Proibido Fumar" a princípio é simples. Baby (Pires) é uma professora de violão solteirona em São Paulo que se vê apaixonada pelo novo vizinho de andar, o músico de churrascaria Max (Paulo Miklos). Decidida a deixar o cigarro para conquistar o namorado de vez e finalmente se casar, começa a frequentar grupos de apoio. Mas a aparição de um antigo caso de Max faz com que a história tenha uma bela reviravolta.
O roteiro e a direção do filme ficaram a cargo de Anna Muylaert, diretora do também premiado "Durval Discos" (2002) – vencedor de sete prêmios em Gramado – e, assim como em seu trabalho de estreia, a trilha sonora aparece em primeiro plano. A importância da música é, para a diretora, algo natural, mas, mais do que isso, até faz parte dos personagens.
"Minha mãe era professora de violão [como Baby] e meus pais amavam bossa nova, cresci num ambiente musical. Depois fui buscando meus ídolos, como Jorge Ben, Novos Baianos... Gosto de música até hoje", conta Anna, em entrevista ao iG. Ela admite, no entanto, que essa característica não é exclusividade sua. "Wes Anderson, que adoro, também usa muito música. E o Tarantino mesmo, que trouxe essa coisa de cultuar o pop no cinema." Para os protagonistas de "É Proibido Fumar", sobra até uma analogia: "A Baby é a melodia, vem com romantismo. Já o Max é o ritmo, a malandragem, o sexo".
Esse "balanço" veio na forma de Paulo Miklos, um dos vocalistas do Titãs, que, depois de trabalhos no cinema ("O Invasor") e televisão ("Mandrake"), cristaliza sua carreira como ator. "O Paulo tem esse sabor da música, o modo de falar, se vê que é um cara de dentro, e também, claro, sabe tocar. É um ator diferente, relaxado", conta Anna. "Foi uma opção corajosa, meio contra todo mundo. Para contracenar com a Gloria, não é fácil, se esperaria um galã. Considero ele um galã, mas por outros padrões."
A certeza surgiu em um "demofilme", experiência que a diretora costuma realizar antes das filmagens. Anna levou Miklos e Daniela Nefussi, que interpreta uma das irmãs de Gloria no longa, para um quarto de hotel e ao longo de dois dias gravou o filme inteiro, só com uma câmera. Além de auxiliar a direção, a técnica – aparentemente exclusiva no Brasil – ajudar a lapidar os diálogos. "Serve para colocar o roteiro na linha do tempo, ou seja, ver a cadência, que parte está lenta, que parte está rápida. Cinema é música", define.
Ao receber o convite para o teste, Miklos topou sem pestanejar. "De cara percebi que era um desafio muito bacana", lembra o ator. "Unia as coisas que gosto, atuar e tocar. Levei meu violão para o teste e fiz tudo que era capaz (risos)." Envolvido no projeto, Paulo ainda ajudou na trilha sonora – garimpando canções de Juca Chaves e Cyro Aguiar, entre outras raridades – e trouxe muito de sua personalidade para o personagem: a pedido da equipe, levou para o set algumas de suas roupas e, quando percebeu, estava vestido como no dia-a-dia em cena.
A entrada de Gloria Pires no projeto não foi exatamente difícil, já que a atriz adorou o roteiro, mas demorada. "Como ela tinha uma novela ["Paraíso Tropical"], tive que ter paciência e esperar um ano", diz a diretora. Desfrutando de uma popularidade que talvez só possa ser comparada a de Selton Mello, Gloria afirmou esta semana, ao divulgar "Lula, o filho do Brasil", que seu sucesso nas telas tem acontecido graças aos "amigos" que lhe trazem ótimos projetos. "O barato da vida de ator são todas essas possibilidades e tenho tido muita sorte. Aos 46 minutos do segundo tempo, é uma boa surpresa tudo isso", comentou.
Se o "demofilme" e os ensaios ajudaram a delinear a história, não quer dizer que os improvisos não aconteceram em cena. Miklos é o mais entusiasmado com a forma com que os atores se apropriaram do roteiro e se soltaram diante das câmeras. "Atuar é um pouco isso, um momento de verdade em que as coisas aparecem. Você discute muito antes, se prepara mentalmente, fisicamente para estar pronto, mas na hora do vamos ver, a coisa se desenrola como se fosse na vida real e a Anna vai dirigindo esse jazz."
A regente, porém, garante que, mesmo deixando a ação solta, tudo devia ficar no limite do tempo que o roteiro indicava. Isso porque a diretora adotou para a história o que chama de Teoria da Sequência, uma espécie de modelo matemático que prevê que todas as cenas devam ter o mesmo peso, dois minutos, em sequências também iguais, para não deixar a tensão e o andamento da trama diminuirem ao longo do filme. "Você pode adotar essa métrica da maneira que quiser e daí vem sua própria musicalidade", explica.
Além da história de amor entre Baby e Max, também pontuam o roteiro uma série de participações especiais, esquetes guiadas por convidados como Antonio Abujamra, Lourenço Mutarelli, Pitty e Etty Fraser para temperar a trama. "Queria fazer um cenário humano, e todos esses personagens estão em situações de pressão, reclamando, o que dá um sabor paulista ao filme." Paulo Miklos vai mais longe: "É um microcosmo. O cinema tem isso de ser uma lente de aumento, e lá tem tudo. Embora seja uma historia com poucos elementos, toda a tragédia e comédia humana estão ali".
O próximo trabalho da cineasta é o telefilme "Para aceitá-la, continue na linha", com 50 minutos de duração. O filme será exibido no próximo dia 12 na TV Cultura e mostra como uma mulher de classe média alta é sequestrada em São Paulo e se vê num carro rumo ao Rio de Janeiro. Assim como fez o diretor Beto Brant, Anna deve transformar o filme em um longa-metragem e levá-lo para festivais ou aos cinemas.
Até lá, a ansiedade fica por conta da carreira de "É Proibido Fumar", que estreia no País com 38 cópias. Mesmo com a consagração do filme em Brasília e da presença de Gloria no elenco, a diretora não baixa a guarda. "O realismo diz pra gente não ter muita expectativa. Filme brasileiro, sem ser da Globo Filmes, tem sempre dificuldade. A Globo entrou como parceira nos últimos dias e tem exibido spots na TV. O otimismo apareceu, mas só essas coisas nao garantem o sucesso." A resposta, o público vai dar nas próximas semanas.
Fonte de pesquisa:
Último segundo (Link original, aqui)

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