Filme estrelado por Gloria Pires e Miranda Otto é recebido com aplausos em Berlim
Bruno Barreto retoma forma com filme recebido com aplausos em Berlim
RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
MARCO
AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO
A história de amor visceral entre a poeta americana Elizabeth
Bishop (Miranda Otto) e a arquiteta e paisagista brasileira Lota de Macedo
Soares (Gloria Pires) no Rio dos anos 1950 e 1960 foi recebida com aplausos na
mostra Panorama (e com risos, por causa do excesso de patrocínios estampados na
abertura).
Num festival menos engajado (o tema do ano em Berlim é a
sobrevivência da comunidade no mundo moderno), o longa poderia disputar o Urso
de Ouro, se estivesse participando da competição oficial -em parte por
incompetência da concorrência.
Bruno recebeu o projeto da mãe, Lucy
Barreto, fã do livro "Flores Raras e Banalíssimas", de Carmem Lúcia de Oliveira,
de quem comprou os direitos de filmagem em 1997.
Mas o cineasta nunca foi grande entusiasta da ideia. Somente quando
separou-se da atriz Amy Irving, em 2005, que percebeu a atração pelo projeto.
"Fiz dois filmes, mas este ficou comigo o tempo todo. Eu entendia aquela
história sobre perda. Lota 'c'est moi' [sou eu]", brinca.
Entendia tanto
que batizou a produção de "A Arte de Perder" --inspirado nos versos de "One
Art", poema de Bishop que abre o filme. Mas os outros membros da produtora
(familiar) LC Barreto preferiram apostar em "Flores Raras", que, duas semanas
antes da estreia em Berlim, foi mudado para "Você Nunca Disse Eu Te Amo" (frase
dita por Lota para a amante).
"O primeiro nome ainda é meu preferido, mas
não acharam comercialmente bom. Não quis ir contra, pois, se algo der errado,
não queria que me culpassem", graceja Barreto.
O cineasta não deveria se
preocupar. O longa, que deve estrear no Brasil em 24 de maio e é quase todo
falado em inglês, é seu melhor trabalho em duas décadas.
Apesar da mão
pesada no final, reforçando de forma redundante as palavras da poeta, Bruno
Barreto se vale do roteiro escrito por Carolina Kotscho ("2 Filhos de
Francisco") e Matthew Chapman ("O Júri") para criar emoções e personagens reais,
com virtudes e defeitos palpáveis, interpretadas com vigor por Gloria Pires e
Miranda Otto.
Gloria constrói Lota (1910-1967), responsável pela criação
do Aterro do Flamengo e que morreu de overdose de tranquilizantes quando a
relação com Bishop já estava arruinada, como uma mulher de sexualidade acentuada
e personalidade forte, com direito a cenas picantes.
"Falei para a Gloria
que ela pode ter uma carreira como a da Juliette Binoche ou da Marion
Cotillard", exalta Lucy.
Já a australiana Otto compõe Bishop (1911-1979)
com uma fragilidade comovente, seja quando ela se entrega ao alcoolismo seja ao
vencer o prêmio Pulitzer de poesia em 1956 por "North & South".
"Por
tudo que já exibimos, confiamos muito nele", diz a produtora Paula Barreto, irmã
de Bruno.
Fonte:
Bol Notícias
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