Novo filme de Bruno Barreto vai de risos a aplausos no Festival de Berlim

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM


O novo filme do brasileiro Bruno Barreto ("O Que É Isso, Companheiro?), "Você Nunca Disse Eu Te Amo" passou por dois momentos distintos em sua première mundial no Festival de Berlim, neste sábado (9).

A platéia formada pelo público normal do evento --que comprou ingressos para a sessão especial-- e por jornalistas de vários países começou a dar gargalhadas constrangedoras no início do longa por causa do número exagerado de inserções de logotipos de patrocinadores.

A sala lotada começou ecoar as primeiras risadas quando surgiu o logotipo da Petrobras e continuou por mais algum tempo antes da primeira cena do longa realmente aparecer na tela.

Entre todas as produções vistas pela reportagem da Folha no festival, o brasileiro é o que mais dá destaque a seus "apoiadores" na abertura --vai da RioFilme a Pestana Hotéis.

No entanto, a má vontade gerada por essa espera se dissipou nos primeiros minutos do romance de Barreto, seu melhor filme em pelo menos 15 anos.

O cineasta dirige com uma sensibilidade surpreendente a história do amor entre a poetisa americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto) e a arquiteta e paisagista brasileira Lota Macedo Soares (Gloria Pires), que se encontraram no Rio da década de 1950.

Em um festival menos temático (o foco de Berlim 2013 está sendo a identidade dos valores básicos do homem) e engajado politicamente, "Você Nunca Disse Eu Te Amo" poderia muito bem figurar entre os longas da competição principal --e não ficar relegado a uma mostra paralela como a Panorama, neste caso.

A começar pelo belo trabalho de interpretação da dupla de protagonistas. Gloria Pires deixa qualquer restrição de ser uma atriz global para dedicar-se a um papel ousado, que exige dedicação física e uma química sexual potente.

Já Miranda Otto, que sumiu após fazer uma vertente do triângulo amoroso com Viggo Mortensen e Liv Tyler em "O Senhor dos Anéis", mostra uma segurança que, ironicamente, dá veracidade à fragilidade de Elizabeth.

O roteiro de Carolina Kotscho ("2 Filhos de Francisco") e Matthew Chapman ("O Júri") consegue equilibrar a admiração pelas mulheres com seus defeitos emocionais, além de pitadas na medida certa sobre a situação política da época, o que poderia ser uma armadilha. Antes de passar mensagem, o longa constrói personagens de verdade.

O drama só tem problemas menores perto do fim, quando Barreto pesa um pouco a mão ao providenciar imagens redundantes às palavras lindíssimas dos poemas de Bishop.

Apagar as luzes do aterro do Flamengo (que precisa de retoques nos efeitos especiais), construído por Lota, e mostrar um garotinho perdendo um barquinho de brinquedo em momentos cruciais da produção foram tropeços (mesmo mínimos) para o brasileiro, que arrancou aplausos entusiasmados em uma sala ainda lotada ao término da sessão.

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