Entrevista com Gloria Pires, estrela de Insensato Coração

Reportagem extraida do site oficial CLAUDIA

Depois de viver os últimos dois anos em Paris e estrelar sucessos no cinema, Gloria Pires volta para o Brasil e à TV. Para a felicidade dos fãs, ela encarna Norma Pimentel, personagem que promete surpreender – para o bem e para o mal – em Insensato Coração, a nova trama da Globo. Mas, drama, só na novela. Nesta entrevista, acompanhada da cadelinha Biju, ela esbanja carisma e bom humor
Vera Gudin

O dia tinha sido exaustivo para a atriz carioca Gloria Pires, a Norma Pimentel de Insensato Coração, nova novela global das 9, escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Às 6, já estava a caminho do batente, de onde só saiu 15 horas depois para embarcar a filha Antonia num voo para Paris. A garota já estava no aeroporto e Gloria teve de atravessar a cidade para se despedir. “Desci do táxi de salto alto, com um vestido de seda e toda maquiada. Mas consegui embarcá-la”, conta a atriz. A cena ilustra bem o temperamento dessa leonina de 47 anos – e 40 de profissão –, superorganizada, que adora tomar sol, beber chás, acender incensos. E reza todos os dias. No dia da entrevista para esta reportagem, ela apareceu no estúdio fotográfico de rasteirinhas e vestido longo, ao lado da cadela pinscher, Biju. Mesmo em ótima forma, Gloria recusou petiscos e só tomou água de coco. Anda firme na dieta de apenas mil calorias prescrita por seu nutricionista. “A tela plana realmente engorda. É uma maldade”, reclama. Com relação a Norma, técnica de enfermagem que será ludibriada e não poupará esforços para se vingar, refuta prontamente o rótulo de vilã: “Isso limita bastante. A personagem é muito rica”. Engana-se, portanto, quem acha que vem aí mais uma Maria de Fátima, a golpista de Vale Tudo (1988), também de Gilberto Braga. “A Norma não é uma alpinista social nem sonha com glamour”, compara Gloria, feliz com a repercussão da reprise no canal a cabo Viva, com excelentes índices de audiência. E como se abastece para interpretar uma personagem vingativa? “Ah, ela ainda está em construção. Essa faceta vingativa nem apareceu”, despista a atriz, que voltou de Paris – onde vivia com a família desde 2008 – para participar da novela. No futuro, tem planos de morar novamente na França, mas em pequenas temporadas. “ Tudo lá me encantou, mas adoramos voltar ao Brasil.” Para Dennis Carvalho, diretor de núcleo de Insensato Coração, a participação de Gloria na trama faz toda a diferença. “A gente se entende demais quando trabalha junto. Ela sabe exatamente aquilo que eu preciso que seja feito em cena. Considero-a uma das grandes atrizes da TV brasileira. Tê-la no elenco é motivo de muita felicidade, pois, além de sermos amigos, nossa troca profissional é intensa e superinteressante. Isso é um prato cheio para qualquer diretor”, afirma.

Pé no chão
Gloria Maria Cláudia Pires de Morais é dona de uma das carreiras mais bem-sucedidas e estáveis no país, iniciada em 1969 com uma participação em A Pequena Órfã, na TV Excelsior. Também mantém há 23 anos um casamento sólido com o músico Orlando Morais – no momento, morando em Paris –, com quem ela teve Antonia, 18 anos, Ana, 10, e Bento, 6. “A estabilidade é uma característica minha. Preciso muito das raízes e de sentir meus pés no chão. Se isso passa para o público, ótimo. É uma coisa autêntica”, garante a atriz. Mas essa mulher, mãe e profissional perfeita, nunca sai do eixo? “Quando não durmo bem, acho mais difícil digerir as adversidades do dia a dia.” Também não é bem assim. “A maior qualidade dela é a paciência”, atesta a atriz Cleo Pires, 28, fruto de seu primeiro casamento, com o cantor Fábio Jr. “Defeito? Nenhum que seja recorrente. Minha mãe sempre se supera”, derrete-se Cleo. É na sua casa no Itanhangá, área nobre da zona oeste do Rio de Janeiro, e no convívio com a família que Gloria recarrega a energia e a criatividade. “Lá ponho o meu lado emocional em ordem”, assegura. Diz ter superado a timidez, um entrave no início da carreira, graças ao marido. “Tive que dar nó em pingo d’água. Não sei como persisti na profissão. Eu tremia, minha boca secava e meu coração parecia que ia sair pelos olhos. Isso aconteceu durante muito tempo. Custei a curtir o meu trabalho. Quando Orlando entrou na minha vida, as coisas ganharam outro tom. Ele foi um divisor de águas”, afirma, mostrando a cumplicidade do casal. Embora tenha alcançado a fama aos 14 anos, quando interpretou, em 1978, a Marisa, em Dancin’Days, de Gilberto Braga, Gloria não considera precoce o seu sucesso. Desde o início daquela década, ela já participava com o pai, o ator e comediante Antônio Carlos Pires, de alguns programas humorísticos, como Chico City (1973), e havia feito três novelas, entre elas Duas Vidas (1976). “Ter pai ator e conhecer os bastidores desse universo me deu suporte e um eterno pé atrás: observar mais e falar menos. Quando estourei, já tinha um caminho pequeno, mas firme”, acrescenta. Ao mencionar o pai, falecido em fevereiro de 2005, Gloria não contém o choro. Após se recompor, esclarece: “Falar dele me deixa superbem, mas sinto muita saudade. O mais incrível é que ele nunca me deu conselho. Nem precisava, eu via como ele criava seus personagens”. A atriz, que também perdeu a mãe, a produtora Elza Pires, no início da década de 1990, é muito próxima da irmã, a terapeuta Linda, nove anos mais velha.

Puro carisma
Com 27 novelas e duas minisséries em sua bagagem televisiva, Gloria amealhou vários papéis de destaque, como as gêmeas Ruth e Rachel, de Mulheres de Areia (1993), e Maria Moura, em Memorial de Maria Moura (1994), e prêmios, entre eles o Troféu Mário Lago (2007), concedido pelo Domingão do Faustão pelo conjunto da obra. Em junho do ano passado, lançou sua biografia autorizada, 40 Anos de Gloria (Geração Editorial), escrita por Eduardo Nassife e Fábio Fabretti. Fez 13 filmes, emendando um sucesso ao outro. Se Eu Fosse Você (2006), de Daniel Filho, foi uma das maiores bilheterias do cinema nacional. Se Eu Fosse Você 2 (2008) não ficou atrás. “O que mais chama a atenção em Gloria é a discrição, a concentração e o bom humor. Isso ficou muito claro nos filmes e nas novelas que fizemos, como Belíssima (2005) e Paraíso Tropical (2007)”, elogia o parceiro Tony Ramos. Por sua atuação como Baby, em É Proibido Fumar (2009), de Ana Muylaert, ela recebeu vários prêmios, como o de melhor atriz no Festival de Brasília. Em Lula, o Filho do Brasil (2010), de Fábio Barreto, interpretou Lindu, a matriarca dos Silva. Agora, Gloria se prepara para encarnar, em Arte de Perder, de Bruno Barreto, a arquiteta brasileira Lota Macedo Soares, que viveu uma intensa história de amor com a poetisa americana Elizabeth Bishop. E o teatro? “Não aconteceu. Mas não estou fechada de jeito nenhum”, garante.

Família Unida
Para dar conta dos filhos, da casa e do trabalho, Gloria conta com um staff doméstico e procura se exercitar diariamente. “Se você não estiver inteira com sua saúde, não aguenta o pique”, afirma a atriz, que jura não ter feito nenhum tratamento estético. Ela se define como uma mãe presente e pouco invasiva, mas faz uma ressalva: “Se vejo que estão fazendo coisa errada, não fico calada”. A união e a mobilidade são características do clã, que, em 2003, fincou por mais de dois anos raízes em Goiânia, onde os Morais têm uma fazenda. Eles ainda moraram em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1998, para se afastar de fofocas e boatos que envolviam a família. Gloria não toca no assunto, mas comenta o lado ruim da fama: a invasão da privacidade. “Atrapalhou minha vida e a de quem eu amo.” Kardecista, ela tem o hábito de reunir, aos domingos, familiares e quem estiver por perto para o culto ao lar, no qual é feita uma reflexão do evangelho segundo o espiritismo. “Harmoniza muito a gente”. Pouco consumista – só compra o que precisa –, ligada à tecnologia e avessa à psicanálise, diz ter dificuldade em se definir. “Sou uma incógnita.”

Fonte de pesquisa:

Site Oficial Claudia