Flores Raras: Crítica destaca brilhante atuação de Gloria Pires
Mesmo quem acompanha há anos o trabalho de Gloria Pires (Se Eu Fosse Você) deve ficar surpreso com a brilhante atuação dela ao lado da australiana Miranda Otto (Senhor dos Anéis) em Flores Raras, novo filme de Bruno Barreto. Se o encantamento com o casal de protagonistas do longa é algo imediato, o mesmo não acontece com a forma como a narrativa acontece. Para contar a história real da relação entre duas mulheres de mundos diferentes, o diretor acaba abusando de certos clichês e, pior, tentando forçar metáforas desnecessárias em cenas que o essencial já estava bastante visível.
Na Nova York do início da década de 1950, Elizabeth Bishop (Miranda Otto) passa por uma crise e não consegue mais criar, o que a faz abandonar os EUA para passar uma temporada longe, em regiões exóticas como o Rio de Janeiro. No Brasil, a escritora se hospeda na casa da amiga Mary (Tracy Middendorf, deMissão Impossível 3), que é casada com Lota de Macedo Soares (Glória Pires). De mundos completamente opostos e com formas de pensar contraditórias, Elizabeth e Lota criam certa antipatia a primeira vista. Porém, logo elas vão percebendo que o sentimento entre elas é bem mais complexo do que simples antipatia.
Decidida a ficar no Rio de Janeiro, a poetiza inicia um romance com a arquiteta, criando um triangulo amoroso em uma casa afastada dos olhos preconceituosos da sociedade carioca da época. Mesmo longe dos holofotes, há uma tensão entre o forte amor que surge entre Lota e Elizabeth e o ciúme e sentimento de rejeição de Mary, uma mulher submissa que prefere viver na sombra a tentar esquecer sua paixão. Durante mais de uma década, a escritora mergulha nesta relação que lhe permite extravasar sua criatividade. Porém, mesmo estando tanto tempo juntas, Lota e Elizabeth continuam sempre caminhando por mundos opostos.
Ousado, em um momento em que se discute cada vez mais qual o tratamento que deve ser dado a casais homossexuais, Flores Raras tem a naturalidade necessária de mostrar a relação entre duas, ou três, mulheres de forma neutra, sem qualquer pré-julgamento. A presença de duas gigantes nos papeis principais, torna a questão da sexualidade quase que banal no filme, que apresenta envolver muitas outras questões, independente do gênero dos personagens. Glória Pires encarna uma mulher forte, determinada e extremamente sedutora, capaz de conquistar a mulher que desejar sem muito esforço. Muito mais do que isso. Capaz de convencer o público que Glória Pires não existe, apenas Lota de Macedo Soares.
Não é menor o poder da atuação de Miranda Otto, mesmo que encarne uma mulher insegura, perdida em um universo que não o seu, e que aos poucos se encontra quando guiada por seu novo amor. No entanto, muito da atuação da dupla se perde em escolhas equivocadas, seja do roteiro, da direção ou da edição do longa-metragem. A tentativa de mostrar o processo de criação de Bishop quebra parte do encanto pela personagem. Tem momentos que não mostrar pode ser muito mais rico para a construção de uma história. O incomodo, porém, é bem menor do que quando o filme joga no espectador imagens desnecessárias para forçar metáforas, principalmente vindo de um diretor de carreira tão longa.
Se a execução do filme peca em muitos momentos, nada consegue tirar o brilho do casal principal em que, como diz Camões, “transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar”. Encanta a história destas mulheres não a frente de seu tempo, mas além de qualquer tempo, como encanta o foco escolhido para abordar a relação, em um jogo de perdas e conquistas, ou conquistas e perdas. Mas nada, sem dúvida, nada supera a genialidade da atuação de Miranda Otto e Glória Pires.
Gloria Pires fala sobre 'Flores Raras'
Fonte:
Youtube (Canal BR Cine)
Comentários