POR FABIO DOBBS
Rio - ‘Talvez o público não esteja preparado para ver essa imagem da Gloria, mas acho bom que isso aconteça. É um dos meus projetos mais ousados”, avisa Gloria Pires, preparando o espectador para o que ele verá no filme ‘Flores Raras’, que estreia em maio. Muito diferente das mocinhas e vilãs que está acostumada a fazer na TV, a atriz exala sensualidade na pele de Lota de Macedo Soares. Uma mulher que na década de 50 assumiu sua homossexualidade, manteve um romance a três com sua namorada Mary (Tracy Middendorf) e a poetisa Elizabeth Bishop (Miranda Otto) e projetou, a pedido do então governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda (Marcelo Airoldi), o Aterro do Flamengo.
Com a ousadia e o desprendimento característicos das grandes atrizes, Gloria se entrega a Lota em cenas de beijos, amassos e muito desejo. “O físico entre elas (Lota e Bishop) era muito vivo. A Bishop era uma pegadora e tive que achar o tom certo para não ficar pudico e ser espontâneo”, conta o diretor Bruno Barreto. Para dificultar ainda mais, diálogos em inglês, para os quais a atriz contou com a ajuda da americana Barbara Herington. “Não tenho a vivência da língua, a Barbara trouxe toda a melodia do idioma. Foi complicado, mas gostei do resultado”, avalia Gloria.
E não foi só a atriz quem gostou. ‘Flores Raras’ teve boas críticas ao ser exibido recentemente no Festival de Berlim e agora vai estrear no Tribeca Festival, em Nova York. No Brasil, o longa só entra em cartaz em maio. “Eu queria que esse filme se chamasse ‘A Arte de Perder’. A história poderia ser entre um homem e uma mulher, porque eu gosto de falar da condição humana com emoção. Mas não havia como ser indiferente à homossexualidade retratada naquela época”, reflete o diretor, que começou a rodar o filme abalado pelo fim de seucasamento de 15 anos com a atriz Amy Irving.
Assim como a união de Bruno com Amy, o romance entre Lota e Bishop também durou 15 anos. Enquanto esteve no Brasil, Bishop ficou hospedada na casa construída por Lota em seu sítio, em Petrópolis, região serrana do Rio. “A Bishop comprou a casa depois que Lota morreu”, conta Lucy Barreto, produtora do longa. O local, conhecido como Samambaia, era um paraíso onde a arquiteta vivia seu amor livremente. Para aplacar os ciúmes da namorada, Lota formou com Mary uma família, adotando quatro meninas.
No filme, acontece a adoção apenas de uma. “É uma ficção, tomamos essa liberdade. O que sabemos na realidade é que não havia documentos que comprovassem essas adoções legitimamente”, conta Bruno Barreto. “Quem escolhia os vestidos da filha e fazia os penteados era a própria Lota. Engraçado porque olhando para ela, não se poderia pensar que toda essa feminilidade pudesse vir daquela pessoa”, completa Gloria Pires
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